A busca por uma vida sem problemas pode ser uma expectativa difícil de alcançar, já que desafios e imprevistos são inerentes à existência humana.
Centenas de pessoas acertam na vida e se tornam arrogantes, “sabichões”, senhores do destino, querendo submeter o mundo aos seus delírios. Batalharam para chegar até onde estão e se tornam atrevidos, achando que todos devem abaixar a cabeça reconhecendo humildemente seus esforços. Quando não são elogiados eloquentemente, bajulados, tornam-se um “serial killer” em reclamações, liquidando, um por um, dos seus adversários, deixando todos em volta péssimos.
Ficar ao lado de reclamadores que possuem essa atitude crônica de culpar pais, irmãos, amigos, até filhos, com voz dura e agressões, é mais comum que imaginamos. “Não é justo eu estar trabalhando tanto, vocês estão tranquilos…” Passam a fazer melodrama de coitadinhos, mas na verdade são narcisos e querem a atenção voltada para eles. “Eu trabalhei a vida toda, eu dei conforto para todos, eu fiz de tudo para vocês, e não reconhecem.” E com voz que parece um chicote na mão, prontos a atacar ao menor sinal de diálogo, põem seus ouvintes como ignorantes, abaixo de zero.
Uma boa parte do planeta é composta de gente saudável, amorosa, generosa; outra parte, conturbada e destrutiva. Conviver com essas pessoas torna-se um exercício diário de paciência. Se o reclamão está passando do ponto, acesse a senha “123FUI”. Deixe o doente fazer o barulho sozinho, impedindo de botar fogo na sua paz. Confortar essa pessoa é perda de tempo. Valha-me Deus!
Quase toda criança tem memória fotográfica aguçada. Lembramo-nos da tia que em sua rotina matinal era muito organizada, começando às cinco horas da manhã com as tarefas da limpeza. Ao chegarmos, dizia que acabara de fazer o café e colocava um bolo sobre a mesa e biscoitinhos de nata, docinhos, que até hoje têm sabor de criança, desmanchavam na boca. Elogiávamos seu trabalho, seus deliciosos quitutes, sentindo que ela necessitava de parabéns. Após nossos enaltecimentos, vinham as reclamações, que nos deixavam em silêncio, observando seu comportamento obsessivo-compulsivo de rezingar. Necessitava sentir que seus esforços eram valorizados. Nossa mudez como “psicólogas mirins” diante de suas queixas fazia desaparecerem nossa leveza e nosso sorriso.
Muito diferente é desabafar quando amigas ou amigos se aproximam com o intuito de liberar emoções e amenizar frustrações. Não dá para colocar tudo no mesmo balaio. Esses desabafos são perdoados.
Pense bem: ninguém, ninguém consegue resolver problemas neuróticos sozinho, nem alugar o ouvido de quem quer que seja. Melhor procurar um bom especialista para que o afugente de seu “inferno astral”.
E você, como tem lidado com esses “reclamões”?
Dois beijos
Iná e Ani
Ocupa a cadeira nº 4 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro