Desde 2005, o dispositivo calcula, em tempo real, o quanto os governos federal, estaduais e municipais arrecadam em impostos (Foto/Reprodução)
Em meio à efervescência do centro paulistano, um painel digital gigante segue mudando de números com velocidade assustadora. É o Impostômetro, instalado pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que neste dia 20 de abril completou duas décadas funcionando como um lembrete contínuo da carga tributária enfrentada pelos brasileiros. Mais do que uma ferramenta informativa, o painel tornou-se um símbolo da crítica à forma como o Estado arrecada – e gasta – os recursos públicos.
Desde 2005, o dispositivo calcula, em tempo real, o quanto os governos federal, estaduais e municipais arrecadam em impostos. E os números impressionam. Somente na segunda metade de sua existência, de 2015 para cá, o total de tributos recolhidos chegou à marca de R$ 26,5 trilhões – valor que representa mais que o dobro do Produto Interno Bruto (PIB) nacional atual, estimado em R$ 11,7 trilhões. Em outras palavras, o Estado arrecada cerca de R$ 5 milhões a cada minuto.
Neste ano, o painel atingiu a marca de R$ 1,2 trilhão em arrecadação até o último domingo (20). Um crescimento de 8,6% em relação ao mesmo período do ano passado. A cifra foi alcançada seis dias antes em comparação com 2024, o que sugere mais um recorde de arrecadação ao fim de 2025.
A ACSP organiza, nesta quarta-feira (23), uma cerimônia especial no Pátio do Colégio para celebrar os 20 anos do Impostômetro. Durante o evento, será divulgado um estudo detalhado sobre a evolução dos tributos nas últimas duas décadas. Para Roberto Mateus Ordine, presidente da entidade, o painel serve de alerta: "Controlar os gastos públicos é uma tarefa que nem sempre os governantes conseguem cumprir", afirmou.
A escolha da data de inauguração do painel também carrega um simbolismo histórico. O dia 20 de abril remete à figura de Tiradentes, mártir da Inconfidência Mineira, executado em 1792 por liderar uma revolta contra o chamado "quinto" – imposto colonial que confiscava 20% do ouro extraído no Brasil. Ironicamente, esse percentual, considerado abusivo na época, hoje soa até tímido diante da carga tributária brasileira atual, que varia entre 32% e 35% do PIB.
Apesar da arrecadação robusta, os serviços oferecidos à população ainda deixam a desejar. Um estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), divulgado em 2024, colocou o Brasil na última posição entre 30 países avaliados na relação entre carga tributária e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O resultado é recorrente: o país ocupa o fim da lista desde que o levantamento começou a ser feito, há 14 anos. “Pagamos como países desenvolvidos, mas recebemos serviços públicos que não acompanham esse padrão”, conclui o IBPT.