Superintendente aponta o trabalho precoce como principal causa da evasão escolar

A evasão escolar continua sendo um dos maiores desafios enfrentados pelas escolas da rede estadual, especialmente no ensino médio. De acordo com a superintendente regional de Educação, Vânia Célia, entre os estudantes que tentam conciliar trabalho e estudo, quase 100% dos que precisam optar por apenas uma das atividades acabam abandonando a escola. Um dos principais fatores para essa escolha é a entrada precoce dos adolescentes no mercado de trabalho.

Em entrevista ao programa JM News, Vânia ressaltou que a evasão escolar já começa a ser notada no ensino fundamental, período em que muitos alunos tentam equilibrar trabalho e estudo. Nesse cenário, eles enfrentam dificuldades no aprendizado e problemas de frequência, o que agrava a defasagem escolar. Com a transição para o ensino médio, esses desafios se intensificam, já que os estudantes precisam lidar com um número maior de professores e exigências de mais autonomia no aprendizado.

“Se o aluno arruma um emprego no 7°, 8° ou 9º ano, ele já vai começar a ter muita dificuldade no ensino médio. E no período noturno, é quase 100% de chance de perder esse aluno, porque ele não deixa de trabalhar para estudar; ele deixa de estudar para trabalhar. Mesmo ele ganhando um salário mínimo, para o jovem já é muito”, explica a superintendente.

Ciente do desafio, Vânia destaca a importância de envolver as famílias no enfrentamento da evasão. “A questão do trabalho é algo que venho debatendo muito com os diretores, para que eles possam convencer os pais de que os nossos alunos precisam estudar primeiro, para depois trabalhar”, afirma.

Além disso, a Secretaria de Estado de Educação (SEE/MG) utiliza um painel de acompanhamento em tempo real, que monitora a frequência e o rendimento dos alunos. A ferramenta, segundo a superintendente, permite identificar estudantes com notas baixas, faltas frequentes ou que sequer compareceram à escola após a matrícula. Com base nesses dados, as escolas realizam uma busca ativa, entrando em contato com os alunos e suas famílias, além de acionar o Conselho Tutelar ou, em casos mais complexos, o Ministério Público.

Medidas de enfrentamento

O Censo Escolar 2023 revelou que a taxa de evasão no ensino médio é de 11,4%, com maior incidência entre populações vulneráveis, como indígenas, quilombolas e escolares rurais, além de ser mais alta entre os homens. Dados do IBGE do mesmo ano mostraram que 9,1 milhões de jovens abandonaram a escola antes de concluir o ensino básico, refletindo a gravidade dessa situação.

Em resposta a esse quadro, o governo federal adotou programas como o "Pé-de-Meia" e o "Trilhas do Futuro". Essas iniciativas oferecem apoio financeiro e capacitação profissional, ajudando os jovens a se desenvolverem sem comprometer sua educação. “O governo tem investido no ensino técnico, com parcerias que garantem laboratórios e boas infraestruturas nas escolas. O aluno que opta por cursos profissionalizantes sai com uma profissão e melhores salários”, conclui Vânia.