SOLIDARIEDADE?

Dirigente é suspeito de se apropriar de helicóptero e esvaziar contas de partido

Agência Estado/Pepita Ortega/Rayssa Motta/Fausto Macedo
Publicado em 14/06/2024 às 08:26
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O dirigente foi o principal alvo da Operação Fundo no Poço, aberta nesta quarta-feira, 12, pela Polícia Federal (Foto/Divulgação)

O dirigente foi o principal alvo da Operação Fundo no Poço, aberta nesta quarta-feira, 12, pela Polícia Federal (Foto/Divulgação)

Foragido da Justiça, o presidente do Solidariedade, Eurípedes Júnior, é suspeito de envolvimento no sumiço de um helicóptero avaliado em R$ 3,5 milhões do PROS - legenda incorporada pelo Solidariedade -, no desmonte da sede e do parque gráfico do antigo partido e também em esquema de furto mediante fraude que teria resultado no "esvaziamento de contas da agremiação" às vésperas de sua destituição da presidência do PROS.

O dirigente foi o principal alvo da Operação Fundo no Poço, aberta nesta quarta-feira, 12, pela Polícia Federal. Agentes tentaram cumprir um mandado de prisão contra Eurípedes, mas ele não foi encontrado. A ofensiva apura a suspeita de desvio de R$ 36 milhões dos fundos partidário e eleitoral do Solidariedade nas eleições de 2022 e possíveis candidatura laranjas lançadas no Distrito Federal (mais informações nesta página). O presidente do partido é citado nas investigações como "líder da organização criminosa".

O Estadão procurou o Solidariedade e a defesa de Eurípedes Júnior, mas não houve resposta até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.

A operação que atingiu o presidente do Solidariedade foi autorizada pelo juiz Lizandro Garcia Gomes Filho, da 1.ª Zona Eleitoral de Brasília. Ao decretar a prisão preventiva do dirigente, o magistrado destacou indícios que apontam desvio de dinheiro público em benefício de Eurípedes e de familiares e aliados dele.

Equipamentos

O "desmantelamento" da sede e do parque gráfico do PROS foi destacado pelo juiz no decreto de prisão preventiva de Eurípedes Segundo Gomes Filho, o dirigente poderia "comprometer a produção da prova com o ímpeto de embaraçar o prosseguimento das investigações".

A PF indica que o ex-presidente do PROS e hoje presidente do Solidariedade "determinou um desmonte" do parque gráfico da legenda em Planaltina (GO) às vésperas do julgamento do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios que o destituiu da presidência daquele partido.

Os investigadores disseram ter encontrado uma nota fiscal que indica que os equipamentos foram vendidos por R$ 868 mil. No entanto, segundo a PF, a avaliação dos equipamentos supera R$ 15 milhões, "a denotar desvio de valores em favor do grupo investigado". O relatório da PF assinala que, além do maquinário, também foram retirados da sede do partido dez veículos, um helicóptero, computadores e até aparelhos de ar-condicionado.

Contas

A PF ainda analisou retiradas financeiras de R$ 3 milhões das contas do PROS após o afastamento de Eurípedes - depois foi informado o estorno à Fundação da Ordem Social, vinculada ao partido. A PF classificou essa movimentação como "grave indicativo de organização criminosa".

"Ao ser afastado por decisão judicial do comando do partido, no dia 8 de março de 2022, (Eurípedes) buscou esvaziar as contas da agremiação, procedendo à transferência de valores do Fundo Partidário para a Fundação da Ordem Social, onde ainda teria poderes de gestão e direção", diz a PF.

Os investigadores descrevem Eurípedes como chefe de organização criminosa "estruturalmente ordenada com o objetivo de desviar e se apropriar de recursos dos fundos partidário e eleitoral". Segundo relatório da Fundo no Poço, ele "gere o partido como um bem particular, auferindo enriquecimento ilícito pessoal e familiar por meio do desvio e apropriação dos recursos públicos destinados à atividade político-partidária".

Viagens

De acordo com as investigações, esses recursos repassados ao partido que teriam sido desviados bancaram viagens de Eurípedes e familiares. A mulher do dirigente, a mãe, um irmão, a cunhada, um primo e sobrinhos também são investigados. Alguns ocupam cargos no Solidariedade.

Diversos destinos são listados no inquérito - Emirados Árabes, França, República Dominicana, Estados Unidos, México e Itália. Dois deles chamaram a atenção da PF: Miami e Orlando. Isso porque quase sempre as viagens tinham escala no Panamá, um paraíso fiscal. Os federais apuram se integrantes da família do dirigente mantêm contas em offshores.

O fluxo de viagens e o paradeiro até então incerto do helicóptero registrado em nome do PROS levaram o juiz Gomes Filho a determinar a apreensão dos passaportes de todos os investigados, por ver risco de fuga. A aeronave foi apreendida anteontem.

Gomes Filho também fez um alerta ao destacar em sua decisão a proximidade das eleições municipais. "O Solidariedade irá gerir verba eleitoral milionária, com grave risco de perduração dos atos criminosos, dada a percepção de que o acusado, familiares e pessoas de seu relacionamento permanecem integrando importantes cargos no partido, com forte suspeita de que persistem em plena atividade criminosa nos mesmos moldes perpetrados no então PROS", disse.

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