Durante a coletiva de imprensa nesta manhã, o promotor de Justiça de Defesa da Família de Uberaba, André Tuma pontuou que a vítima não tinha inimizades e descartou a prática de bullying (Foto/Joana Prata)
Coletiva de imprensa na manhã desta terça-feira (20) trouxe detalhes sobre o crime que chocou Uberaba, ocorrido em uma escola particular da cidade. Entre os dados apresentados, os policiais e promotores envolvidos no caso esclareceram que a motivação do crime foi inveja e que a vítima foi escolhida aleatoriamente. Foi descartada a participação de um possível terceiro envolvido, bem como grupos organizados a fim de promover a violência. Os adolescentes permanecerão apreendidos em Araxá e serão indiciados por ato infracional análogo ao crime de homicídio triplamente qualificado, com a pena máxima de três anos, permitida pelo Estatuto da Criança e Adolescente.
Durante a coletiva de imprensa nesta manhã, o promotor de Justiça de Defesa da Família de Uberaba, André Tuma pontuou que a vítima não tinha inimizades e descartou a prática de bullying. "O que ela tinha era um excelente relacionamento com os colegas, uma turma de amigos, nada que pudesse desencadear isso, frequentava a igreja com seus pais, uma excelente aluna, que inclusive havia ganho prêmios dentro da escola. Nada que pudesse desabonar", pontuou o promotor. Ainda de acordo com Tuma, os ataques são infundados.
O promotor ainda esclareceu que o procedimento processual está em andamento e uma sentença pode ser esperada em 45 dias. Aos jovens foi atribuído o ato infracional análogo ao crime de homicídio triplamente qualificado, com a pena máxima de três anos, permitida pelo Estatuto da Criança e Adolescente.
A hipótese de um terceiro envolvido foi descartada pelo delegado Cyro Outeiro, titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). "Foi provado nos autos que não há possibilidade de um terceiro ou uma organização por trás disso. Foi premeditado pelos dois adolescentes apenas", esclareceu o delegado.
Ainda de acordo com o delegado, após o crime, o autor saiu caminhando devagar da sala de aula, e um outro colega saiu atrás dele. Ao retornar, esse segundo aluno justifica ter ido atrás do autor. "Mas posteriormente encontramos elementos manuscritos de que ele planejou a fuga com o outro, de modo que a ligação entre eles está bem definida nos autos. Não há dúvida da participação dele e apenas dele. Então, são apenas dois envolvidos", pontuou Cyro Outeiro.
As investigações apontam que a motivação do crime é inveja. "O executor afirmou, em entrevista informal, que sentia inveja da menina e já conhecia essa menina há muitos anos, não havia um relacionamento afetivo entre eles, então o crime foi um plano de adolescentes de 14 anos", completou.
O delegado Cyro Outeiro, ainda acrescentou que os jovens permaneceram em silêncio sobre os atos cometidos durante o depoimento. "Nos momentos em que eles tiveram a oportunidade de falar, acompanhado de seus advogados e seus representantes legais, eles não quiseram falar, permaneceram em silêncio, e não demonstraram nem transpareceram nenhuma emoção em relação à vítima ou ao ato praticado. Não estavam abalados nem chorando, nem nada nesse sentido. Permaneceram em silêncio. Logo, não deram suas versões sobre os fatos ocorridos", revelou.
Ele acrescenta que os pais de todos os envolvidos foram ouvidos. "Eles estão perplexos, da mesma maneira que toda a sociedade", pontuou, acrescentando que se mostraram bastante abalados com todo o ocorrido.
Familiares da vítima acreditam ter ela sido vítima de feminicídio e misoginia. Contudo, o promotor de Justiça de Defesa dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes de Uberaba, Diego Aguillar, descartou a tipificação. "Existe uma lista e um planejamento do ato infracional análogo ao homicídio. Não podemos qualificar como feminicídio, porque ele tem características muito específicas que não foram identificadas nesses caso", esclareceu.
Aguillar reforçou que não há qualquer confirmação de que houvesse a intenção dos jovens em matar mais pessoas. Contudo, ele reforça que houve planejamento por parte dos jovens.
Também presente na coletiva, a coordenadora Regional das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes do Triângulo Mineiro, Fernanda Fiorati, pontuou que o caderno encontrado com o autor das facadas mostra que ele é um adolescente que "gosta de poesia e de ler. São textos que mencionam o que ele sente e junto desses textos, aleatoriamente, alguns símbolos, que em nenhum momento foram relacionados a seitas religiosas ou a algum grupo externo".
Ainda sobre o perfil do autor das facadas, o promotor André Tuma acrescenta que se trata de um jovem inteligente sem qualquer tipo de laudo de neurodivergência. "As pessoas tentam preencher as lacunas com informações de quaisquer tipos. Especulou que ele poderia ser neurodiverso, até que ele poderia ser adotivo, por isso ter praticado o fato, são informações completamente dissociadas da realidade. Ele era um garoto muito inteligente, com excelentes notas... Então assim, nada indica que ele necessitava qualquer tipo de suporte, muito pelo contrário. Também ganhava prêmios de concursos escolares, olimpíadas", pontua.
Tuma ainda complementa que os nomes citados nesse caderno aparentemente não significam uma lista de vítimas. "O temos de concreto é que naquele dia o envolvido 1 leva uma faca para dentro da escola e aí eles acertam que seria naquele dia, estabelecem o plano de fuga, o envolvido 1 menciona que queria uma vítima específica, então tudo leva a crer que ele já tinha a ideia ao levar o instrumento para a escola. Então não há essa coisa de um massacre seguido, uma lista...", disse Tuma.
Ainda no que tange à motivação do crime, o promotor Diego Aguillar revelou que, ao ser capturado, o jovem disse: "Eu fiz porque tinha inveja, pelo fato de ela simbolizar alegria que eu não tinha".
As investigações ainda concluíram que não há espaço para responsabilização da escola. Segundo as autoridades, o crime foi cometido em sala de aula por conveniência.
Nesse sentido, a promotora Fernanda Fiorati reforçou sobre a necessidade de que os pais estejam mais presentes nas vidas de seus filhos. "É olhar celular, é olhar caderno, é olhar mochila... isso é responsabilidade de dentro de casa. Então transferir esse tipo de responsabilidade para a escola não é desejado. Não pode, deve! Olhar celular, olhar caderno, olhar mochila para ver o que tá fazendo, conhecer os amigos, conhecendo o que fala, o que gosta de conversar, o que está escrevendo. Os pais precisam conhecer seus filhos até para perceber uma mudança de comportamento para buscar ajuda, tentar orientação. Mas os pais precisam conhecer seus filhos", finalizou.