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200 anos de lendas urbanas: intrigante chalé eclético do Centro

Com doces, mas sem travessuras, a Casa do Artesão, dona de uma arquitetura única intriga observadores

Raiane Duarte
Publicado em 06/03/2020 às 18:34Atualizado em 18/12/2022 às 04:42
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Fotos/Raiane Duarte

Casas antigas, assim como pessoas mais velhas, carregaram inúmeras histórias, algumas mais sombrias que outras. Uma cidade também é assim: além de uma esquina na principal praça, onde nada é construído, o Centro de Uberaba também é dono de outros lugarejos que chamam atenção e que criam um ponto de interrogação na cabeça de quem os observa.

A Historiadora Aparecida Manzan, porém, explica que na cidade de Uberaba muitas dessas histórias se perderam. “Toda cidade tem lenda urbana, agora aqui as lendas urbanas não cresceram tão fortemente a ponto de marcar a vida da sociedade e de ficarem impregnadas na história. Porque a Igreja Católica era muito forte, sempre foi muito forte em Uberaba, e no princípio era mais ainda. Então ela tentava abafar, tirar todas essas superstições e essas crendices populares. E, as pessoas frequentavam muito a igreja, principalmente aqui na Catedral”.

A Casa do Artesão, localizada na rua Senador Pena, no número 352, é um chalé que desperta olhares. Dono de uma arquitetura única, o lugar intriga quem passa em frente à construção. Hoje, a mansão é propriedade da Prefeitura Municipal e abriga a Casa do Artesão na parte superior e na inferior a Amur – Associação de Mulheres Rurais de Uberaba.

A obra arquitetônica foi construída em 1932, pelo engenheiro e arquiteto espanhol André Fernandes, por encomenda do fazendeiro, pecuarista e influenciador da cultura zebuína na cidade, Joaquim Alves Teixeira. O dossiê e o tombamento do imóvel foram feitos em 2003 pela equipe de historiadores da Fundação Cultural de Uberaba.

O jornalista André Azevedo escreveu um material sobre o local. No texto ele narra uma festa de Dia das Bruxas realizada no início dos anos 2000. A ideia foi de Cleide Sara, que se declarou apaixonada pela da mansão. "Ela tem um clima misterioso, eu morria de curiosidade de entrar lá. A fachada sempre me impressionou. Quando passo em sua calçada, especialmente à noite, fico viajando na casa", disse na entrevista. Cleide conseguiu alugá-la por uma noite para fazer o evento. A ideia acendeu o imaginário de todo o seu círculo de amigos e foram feitos convites limitados. A divulgação foi praticamente boca-a-boca. Cleide convidou umas bandas e decorou o interior com quadros, mandalas e tecidos.

A festa começou à meia noite. Poucos minutos depois do início e de uma das bandas convidadas começar a tocar, a Polícia bateu à porta e pediu para que a festa parasse, pois havia incomodado os vizinhos. O sonho de Halloween foi interrompido e o que viria a seguir nunca aconteceu. Será que algo teria acontecido?

As lendas urbanas ganham corpo através da fantasia humana. Alguns acreditam, outros não. Alguns casos são apenas fruto da imaginação, assim como a Casa do Artesão, que com sua arquitetura exótica, faz com que quem a olhe pense “Hm, esse lugar tem cara de mal-assombrado!”.

Elizabethe Lucas é uma das mulheres da Amur. Religiosa, ela trabalha lá como voluntária. Passa as manhãs do seu “plantão” no andar de baixo da casa, local rebaixado e pintado de branco, parte que, há tempos, pode ter se assemelhado a um porão. Hoje os cômodos são cheios de artesanatos, doces e quitandas produzidas pelas senhoras da associação.

“Eu nunca ouvi nada de esquisito e nunca ouvi alguém falar para mim que poderia ter alguma assombração, alguma voz não! As outras meninas eu não posso falar, mas acho que também nunca ouviram nada não. Eu penso assim, por ser claro e ter visibilidade acho que não tem jeito não”, explicou.

A única coisa sombria que atenta dona Elizabethe é o fantasma da morte. Ela explica que as mulheres da associação já são todas idosas, na faixa dos 70, e conforme vão morrendo, alguns conhecimentos delas, como receitas de doces típicos, vão morrendo também. As “meninas da Amur” dividem os dias delas entre as fazendas e sítios onde moram e a Casa do Artesão. As filhas, ao contrário, já são de uma geração totalmente urbana. 

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