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200 anos de lendas urbanas: afinal, a chácara do Mirante é assombrada por almas escravizadas?

Os boatos que correm apontam a existência de um porão com restos de gente, barulhos de correntes, sons de passos e de choro

Raiane Duarte
Publicado em 03/03/2020 às 19:04Atualizado em 18/12/2022 às 04:37
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Fotos/Arquivo

Não são só as casas do centro de Uberaba que atraem a atenção popular. As da redondeza também possuem seus mistérios. A Chácara do Mirante já foi uma fazenda do município, mas hoje foi engolida pela área urbana. Com o passar do tempo, a fazenda também engole boatos e se infla de suposições. O casarão é conhecido por ser mal-assombrado e faz parte do patrimônio histórico de Uberaba.

A arquitetura do local também é um prato cheio para os mais criativos. A chácara tem duas janelas peculiares no andar de cima, que parecem um par de olhos observadores. A casa até se assemelha com a famosa e mundialmente conhecida mansão Amityville. Os fãs do terror conhecem muito bem essa segunda casa. Localizada em Long Island, a mansão foi palco de um dos crimes mais violentos dos Estados Unidos e eternizada pelo cinema como o caso “Horror em Amityville”.

Do lado esquerdo a Chácara do Mirante em Uberaba, na direita Amityville em Long Island

Retornando às terras zebuínas, a casa de Uberaba, segundo a Biblioteca do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, teve sua construção erguida na segunda metade do século XIX. O local nasceu com propósitos agropecuários e foi uma das fazendas pioneiras em trazer o gado zebu para a região. Em contraposto à ascensão do zebu, Uberaba também foi uma das cidades onde pessoas foram escravizadas.

A escravidão, um fantasma ainda recente, permeia a mente popular e faz com que fazendas da região se tornem possíveis lugares com energia pesada, mal-assombradas pelos horrores cometidos pelo homem branco do passado. A Chácara do Mirante reverbera histórias como esta, algumas pessoas acreditam que lá foi palco de acontecimentos do tipo.

A historiadora Aparecida Manzan explica que Uberaba teve fazendas onde pessoas escravizadas, porém pontua que esse não foi, necessariamente, o caso do Mirante. “Por exemplo, eles falam que lá tem um porão com restos de pessoas escravizadas, com correntes e que se ouve barulhos, de andar e de choro, mas eu nunca ouvi uma pessoa idônea falar que é verdade isso”.

Manzan também explica que existiram duas construções no local, a que ainda está de pé hoje e a que se perdeu na história. “Primeiro, a fazenda do Mirante que existe hoje foi construída no final do século XIX, depois da abolição, lá não teve escravos. Teve antes, quando era um casarão mais simples, estilo português, que não tinha esses dois andares e era um pavimento só, da família Delfino Gomes. Ai neste teve escravos sim, muitos, mas depois a casa foi demolida e construída a do Mirante de hoje, onde não teve escravos. Até ouvimos pessoas falando que lá tinha escravos e que eles ficavam no curral, mas não existe isso, não há provas em lugar nenhum em Uberaba de que escravos ficavam no curral”.

Porém, a historiadora também reconhece que, em locais que foram permeados pela escravidão, as lendas, ou histórias reais transmutadas e esquecidas, há maior incidência de relatos de casos “sobrenaturais”. “Agora, toda fazenda que teve escravo, que teve muito sofrimento, existem essas lendas de que eles choram à noite, pedem socorro, que as pessoas ouvem eles andarem e as correntes se movimentarem, batidas de panelas. Aqui em Uberaba ouvimos isso sobre fazendas onde tiveram escravos. Porém, hoje em dia, esses casos vão se perdendo, não são lendas que perpetuaram na cidade. Não fixaram na história de Uberaba”.

Quanto aos casarões e fazendas do patrimônio histórico, as que são casas antigas, não só as tombadas, são recheadas de boatos. “Temos ido em fazendas, quando vou pesquisar na área rural as pessoas contam que de noite ouvem barulho, passos dentro de casa, escutam jogar pedra no telhado. Isso é comum na zona rural, acontece não só porque é uma lenda, talvez, mas porque a madeira antiga provoca certos ruídos, pode ser um animal que anda, um ratinho que está dando um passeio na casa, um pássaro que assentou no telhado. O povo cria essa mentalidade de que há assombração na casa, há gente que acredita. Todo casarão antigo tem suas lendas, embora eu te fale que eu não acredito”.

E você, leitor, acredita? 

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