O neurocirurgião Igor Furtado explica que os sintomas da hidrocefalia em idosos surgem lentamente e geralmente começam com alterações na marcha, seguidos de incontinência urinária e déficits cognitivos, como perda de memória e confusão mental (Foto/Reprodução)
A hidrocefalia de pressão normal (HPN) é uma condição neurológica que afeta principalmente pessoas acima dos 65 anos e é responsável por cerca de 5% das demências em idosos. A doença consiste no acúmulo anormal de líquido cefalorraquidiano (líquor) no cérebro que, diferente de outras formas de hidrocefalia, em que acontece obstrução do fluxo do líquor, na HPN há uma dificuldade na absorção, provocando dilatação dos ventrículos cerebrais. Apesar de ser relativamente comum, essa condição ainda é pouco reconhecida e frequentemente confundida com doenças típicas da terceira idade, como Alzheimer.
Em entrevista à Rádio JM, o neurocirurgião Igor Furtado explica que os sintomas da HPN surgem lentamente e geralmente começam com alterações na marcha, seguidos de incontinência urinária e déficits cognitivos, como perda de memória e confusão mental. Essa tríade é fundamental para o diagnóstico e ajuda a diferenciar a HPN de outras demências. Além disso, a hidrocefalia pode surgir após traumas ou hemorragias cerebrais e, apesar de causar sintomas parecidos com os de um AVC, não provoca acidente vascular cerebral.
“Primeiro vem a alteração da marcha, como se a pessoa não conseguisse levantar o pé e vai arrastando, com uma base mais larga. Depois vem a perda da continência urinária, que vai piorando progressivamente; a pessoa começa a ter urgência para urinar, até chegar ao ponto de não conseguir ir ao banheiro a tempo. Por fim, vem o déficit cognitivo. De 5 a 6% das demências em idosos podem ser causadas por hidrocefalia de pressão normal, que, ao contrário das outras, é tratável e reversível”, destaca.
O diagnóstico inicial é feito por meio de exames de imagem, como tomografia e ressonância magnética, que evidenciam a dilatação dos ventrículos. O tratamento mais eficaz é cirúrgico, com a implantação de uma válvula que drena o excesso de líquor do cérebro, regulando a pressão intracraniana. “A válvula pode ser fixa, programável ou autoprogramável, e a melhora pode ser imediata ou demorar um pouco, especialmente na marcha e na incontinência urinária”, explica o médico.
Embora a cirurgia seja simples e eficaz, o Igor Furtado alerta que o diagnóstico tardio pode comprometer os resultados. “Já recebi casos em que a avaliação chegou tão atrasada que a cirurgia não foi recomendada pelo risco elevado e a baixa chance de melhora”, conta. Ainda não se sabe o que exatamente causa a falha na absorção do líquor, o que dificulta a prevenção. No entanto, idosos ativos e com hábitos saudáveis tendem a perceber os sintomas mais cedo, facilitando o diagnóstico precoce.
O especialista reforça a importância de familiares e cuidadores ficarem atentos a sinais como mudanças no modo de andar, quedas frequentes, urgência urinária e alterações cognitivas repentinas em idosos. “Se um idoso começar a andar mais devagar, apresentar quedas, incontinência e confusão mental, vale buscar uma avaliação para possivelmente identificar a hidrocefalia”, alerta. Afinal, diferentemente de outras demências, a hidrocefalia de pressão normal é uma condição que pode ser revertida, devolvendo qualidade de vida aos pacientes.