Presidente fez seis mudanças na Esplanada desde janeiro, mas não conseguiu acomodar aliados que demandavam maior espaço
Há pelo menos seis meses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) planeja uma reforma ministerial que até hoje não saiu do papel. No final de 2024, o governo começou a sinalizar a necessidade de dar mais espaço na Esplanada dos Ministérios a aliados para preparar o arco de alianças para as eleições de 2026.
O primeiro impasse foi a saúde do petista. O presidente passou por uma cirurgia em dezembro para drenar um hematoma intracraniano, consequência de uma hemorragia causada por uma queda que sofreu em 19 de outubro.
No início deste ano, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, chegou a anunciar para 21 de janeiro a consumação da reforma ministerial. Segundo ele, o objetivo era “aperfeiçoar a gestão”.
“O presidente quer aperfeiçoar gestão, quer fazer eventuais mudanças. Tem uma reunião ministerial no dia 21. Se o presidente decidir, [a reforma] pode ser feita antes da reunião”, afirmou Costa. "O presidente ainda não decidiu sobre as mudanças (nos ministérios). Está em fase de reflexão”, disse Rui Costa. Ele acrescentou que a troca na Secretaria de Comunicação “se dá ao fato de o governo estar entrando em uma nova fase da gestão. É como se estivesse terminando o 1º tempo e estivéssemos entrando no 2º tempo".
Nessa época, Lula substituiu o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom). O marqueteiro Sidônio Palmeira assumiu o lugar do deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), que foi criticado publicamente pelo presidente.
Em seguida, houve a troca no Ministério da Saúde. Lula demitiu Nísia Trindade, substituindo-a por Alexandre Padilha (PT). No lugar dele, a então presidente do PT, Gleisi Hoffmann, foi nomeada como ministra da Secretaria de Relações Institucionais.
Outra alteração recente foi no Ministério das Comunicações, após a saída de Juscelino Filho (União Brasil), denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), por suposto desvio de emendas parlamentares. A pasta continuou com o União Brasil, que indicou o deputado federal Pedro Lucas Fernandes (MA), líder da bancada na Câmara. Ele recusou o ministério e no fim, quem assumiu foi o presidente da Telebras, Frederico Siqueira, por indicação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).
Já nos últimos dias, o presidente teve de trocar Carlos Lupi por Wolney Queiroz no Ministério da Previdência Social, como consequência do escândalo das fraudes no INSS; e, na pasta das Mulheres, Cida Gonçalves por Márcia Lopes, por avaliar que a antiga ministra não vinha mostrando resultados visíveis.
Das seis trocas ministeriais feitas desde janeiro, nenhuma aconteceu dentro do escopo que Lula desejava: o de remanejar cargos de primeiro escalão visando um arco de alianças em 2026. As mudanças vieram por imposição de uma crise, como no caso de Juscelino e de Lupi, por razões pessoais ou para sanear conflitos internos no PT, como na nomeação de Gleisi.
O objetivo do petista era atrair partidos como o PSD, que demandava maior espaço na Esplanada, MDB e União Brasil, mas nenhuma troca foi feita nesse sentido. Além disso, parte dos ministros destes partidos fazem parte da “cota pessoal” do presidente, e não necessariamente têm o aval das respectivas bancadas. É o caso, por exemplo, do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD).
Além disso, existe a ameaça da ‘superfederação’ entre PP e União Brasil de deixar o governo Lula, que tem atualmente quatro ministérios. Segundo ACM Neto, um dos presidentes da federação, há um sentimento “crescente” em ambos os partidos pelo desembarque, ainda que seus ministros digam o contrário. O União Brasil, ademais, estuda lançar o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, como candidato ao Planalto no próximo ano.
Com a proximidade do período eleitoral, as negociações ficam mais complicadas. Isso porque os candidatos no pleito de 2026 devem deixar o cargo até abril. Ou seja, ficariam menos de um ano à frente do ministério, tempo considerado insuficiente para realizar entregas que tragam ganhos eleitorais. É o caso, por exemplo, do deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP), cotado para a Secretaria-Geral da Presidência no lugar de Márcio Macêdo, que há meses sofre um processo de “fritura” dentro do governo.
Fonte: O Tempo