Violenta troca de tiros nos arredores de Varginha, no Sul de Minas, deixou 26 suspeitos mortos neste domingo (31), todos eles suspeitos de integrarem uma quadrilha do chamado Novo Cangaço. A expressão existe há mais de 30 anos e é usada para definir quadrilhas especializadas em assaltos a bancos com criminosos fortemente armados.
Em Minas Gerais, esse tipo de crime é praticado sobretudo no interior do Estado, deixando a população aterrorizada. Em Uberaba, inclusive, temos um exemplo bastante recente, quando um grupo com 25 criminosos cercou a região central da cidade, fazendo reféns; uma delas acabou morrendo em decorrência da ação criminosa. Por aqui, em junho de 2019, nenhum criminoso foi morto durante a ação policial, à época liderada pelo comandante da 5ª Região de Polícia Militar, coronel Lupércio Peres, que foi para o front. Um dos líderes de facção criminosa especializada em roubo a bancos acabou preso tempos depois, na cidade de Americana.
Mega-assalto em Uberaba, no fim de junho de 2020 (Foto/Arquivo JM)
Apesar de recente, o mega-assalto ao Banco do Brasil em Uberaba não foi o último do tipo registrado. No fim de agosto deste ano, ao menos 20 criminosos fortemente armados invadiram a cidade paulista de Araçatuba, promovendo explosões e quebra-quebra em agências bancárias. A ocorrência terminou com três mortos, sendo dois moradores e um suspeito de participar do crime. As imagens do crime em Araçatuba são de arrepiar, sobretudo com o fato de populares terem sido usados pelos criminosos como escudos-humanos.
No ano passado foi a vez de Criciúma, em Santa Catarina, sofrer com o Novo Cangaço, quando pelo menos 30 criminosos fortemente armados em dez veículos lançaram um caminhão em frente a um batalhão da Polícia Militar e atearam fogo. Intensa troca de tiros, explosivos espalhados pela cidade, vários disparos com armamento pesado, muitos reféns e um roubo milionário depois, a ação terminou com a fuga da quadrilha e parte do dinheiro roubado espalhado pelas ruas da cidade.
Bandidos armados até os dentes sitiaram Criciúma, em Santa Catarina, levando o terror de uma modalidade criminosa cada dia mais frequente no país (Foto/Reprodução redes sociais)
Os criminosos não chegam às cidades sem estarem fortemente armados. As ações do Novo Cangaço são sempre marcadas por extrema violência. Em todos os casos a rotina é a mesma: criminosos equipados com roupas especiais, coletes à prova de balas e metralhadoras, quadrilhas com 30 a 40 criminosos chegam às cidades a bordo de diversos carros roubados, fuzilam batalhões da Polícia Militar com armas de grosso calibre para impedir a ação policial próxima ao local do crime, fazem disparos para intimidar a população, interditam vias de acesso à cidade e ao local e explodem caixas eletrônicos. Horas depois fogem com o dinheiro e abandonam os veículos usados em outras localidades. Os lugares também são escolhidos pela facilidade: se dá para entrar e pegar o dinheiro, se tem polícia suficiente para barrá-los, se será possível manter a polícia longe do local do crime, se tem rotas de fuga.
Em Varginha, a ação policial surpreendeu os bandidos em um sítio nos arredores e teve o apoio da Polícia Rodoviária Federal. Segundo informou a Polícia Militar, esta foi a maior operação realizada contra o Novo Cangaço na história brasileira. Isso porque o arsenal de armas usadas pelos criminosos era impressionante: pelo menos dez fuzis, uma escopeta calibre 12, vários explosivos, metralhadoras ponto 50, que podem até mesmo derrubar aeronaves. Segundo o setor de inteligência da Polícia Militar, os suspeitos se preparavam para atacar bancos na região entre domingo (31) e hoje (1º).