POLÍCIA

Mega-assaltos: ex-comandante da PM em Uberaba afirma que bancos também devem investir em segurança

Na avaliação de Coronel Peres, as instituições financeiras não podem deixar a segurança apenas a cargo do poder público

Michelle Rosa
Publicado em 03/12/2020 às 09:34Atualizado em 18/12/2022 às 11:11
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À época do ataque ao Banco do Brasil em Uberaba, o então comandante da Polícia Militar, coronel Lupércio Peres, comandou pessoalmente os agentes, assumindo a linha de frente no confronto direto com os criminosos (Foto/Arquivo JM)

Pelo menos 12 ataques a agências bancárias aconteceram pelo país neste ano. Os últimos foram registrados em Criciúma, no sudeste de Santa Catarina e no município de Cametá, a 235 km de Belém, no Pará. Em todos os casos um grupo fortemente armado provocou uma onda de assaltos e terror nas cidades. 

A história não é nova e Uberaba, no Triângulo Mineiro, também já viveu suas noites de terror. Em 2019 um grupo de 25 criminosos cercou a região central, trocou tiros com a polícia e chegou a fazer reféns, deixando os uberabenses apreensivos. Em novembro de 2017, criminosos assaltaram a empresa de transporte de valores Rodoban, praticamente sitiando a cidade. 

O coronel Lupércio Peres, na época comandante da 5ª Região de Polícia Militar, relembra os casos e destaca que ataques como os registrados nesta semana só podem ser inibidos com mais investimento em equipamentos e estratégias de segurança. 

“Esse é um crime muito grave que traz um impacto grande para a cidade. Nós tivemos em Uberaba casos parecidos, no caso da Rodoban e também do ataque ao Banco do Brasil e a prevenção é um fator primordial no combate ao crime organizado”, destaca. 

Ele ainda pontua que foram necessários realizar planos de chamada, forma de atuação em horários distintos e em cidades próximas. “Fizemos armamento da tropa, temos hoje em Uberaba uma tropa armada e preparada para atuar em diversas frentes, trouxemos para a região os blindados e isso também foi muito importante para dar uma rápida resposta ao fato”. 

Além do preparo dos agentes, o coronel destaca o papel das instituições financeiras no processo. “Infelizmente vemos que o Brasil está sendo assolado novamente por esse tipo de crime. Eles usam armamento pesado e causam uma situação bem complexa. Mas vemos que os bancos também devem se proteger, dificultando a ação criminosa, implantando equipamentos de segurança e sensíveis a qualquer movimento que não esteja na rotina. Quanto mais difícil for o acesso ao criminoso, menos fatos assim serão noticiados, porque ele (o grupo criminoso) desiste da ação. Assaltos dessa natureza colocam  a população também em risco. Os mecanismos de segurança não são simplesmente pelo dinheiro, mas também para proteger a população que está ali no entorno”, completa. 

Coronel Peres finaliza destacando que os municípios e os legisladores também devem cobrar das instituições financeiras os mecanismos de segurança. “Leis devem ser criadas e fiscalizadas junto aos bancos. O legislador deve cobrar e estar atento às medidas de proteção que dificultam a ação criminosa”. 

Dez integrantes da quadrilha que assaltou o Banco do Brasil em 2019, em Uberaba, e que se entregaram após o crime, foram condenados pela Justiça. A soma da pena passa de 1.500 anos de prisão. 

A sentença foi dada pelo juiz Marcelo Geraldo Lemos no dia 9 de setembro, após denúncia feita pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).

No mês passado um dos integrantes da quadrilha, já identificado pelas autoridades policiais, foi preso em em Escarpas do Lago.  Cidade média, lucro alto e arma pesada: entenda os megarroubos a bancos 

Bandidos armados até os dentes sitiaram Criciúma, em Santa Catarina, levando o terror de uma modalidade criminosa cada dia mais frequente no país (Foto/Reprodução redes sociais)

Parecia #TBT: um dia após bandidos fortemente armados tomarem agência do Banco do Brasil em Criciúma, no sul de Santa Catarina, foi a vez de outro ataque com modus operandi idêntico no Pará. De norte a sul, o que essas cidades-alvo têm em comum? 

O padrão visto é quase uma receita de bolo, tanto na escolha do local onde o crime acontecerá, sempre uma cidade média do interior, quanto a execução. Em pouco menos de um ano, outras cidades do porte de Criciúma também padeceram com a visita nada agradável de criminosos fortemente armados, como Araraquara (SP, 238.339 habitantes), no último dia 24 de novembro; Botucatu (SP, 148.130 habitantes), em dezembro de 2019 e julho de 2020; e Ourinhos (SP, 114.352 habitantes), em maio deste ano. Em junho do ano passado era Uberaba que estava na rota dos criminosos com mais um mega-assalto a uma das agências do Banco do Brasil.

Em todos os casos a rotina era a mesma: criminosos equipados com roupas especiais, coletes à prova de balas e metralhadoras, quadrilhas com 30 a 40 criminosos chegam às cidades a bordo de diversos carros roubados, fuzilam batalhões da Polícia Militar com armas de grosso calibre para impedir a ação policial próxima ao local do crime, fazem disparos para intimidar a população, interditam vias de acesso à cidade e ao local e explodem caixas eletrônicos. Horas depois fogem com o dinheiro e abandonam os veículos usados em outras localidades.

Ação minuciosamente orquestrada assim requer alto investimento tanto para equipamentos e armas quanto para “mão de obra”. Por isso, os alvos dos criminosos acabam sendo locais mais vulneráveis, como cidades do interior, onde os riscos certamente são menores. Mas não pode ser qualquer local, precisa ser em cidades onde há bastante dinheiro, até mesmo para fechar a conta do assalto. Nesse sentido, vale uma reflexã se em Criciúma foram deixados para trás mais de R$ 800 mil, já pensou quanto eles conseguiram levar?

Os lugares também são escolhidos pela facilidade: se dá para entrar e pegar o dinheiro, se tem polícia suficiente para barrá-los, se será possível manter a polícia longe do local do crime, se tem rotas de fuga. Nesse sentido, importa destacar também a questão armamentista. As polícias do Brasil não podem usar metralhadoras .50, por exemplo, pelo risco de causar a morte de inocentes. Mas os bandidos não têm essa preocupação. 

Esse tipo de crime começou a aterrorizar o país há cerca de três anos por criminosos ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC), mas a “receita de sucesso” pode ter se disseminado entre outros grupos criminosos não necessariamente ligados à maior facção criminosa do país. 

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