A cantora lírica Maria Lúcia Godoy durante homenagem a seu centenário na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. (Foto/Assembleia Legislativa de Minas Gerais/Divulgação)
A soprano Maria Lúcia Godoy, que encontrou fãs entre figuras como Juscelino Kubitschek, Glauber Braga e Ferreira Gullar, faleceu nesta sexta-feira (16 de maio), aos 100 anos, em Belo Horizonte.
O velório, com merecidas honrarias, ocorre no foyer do Palácio das Artes, um dos principais templos da cultura mineira, a partir das 10h. Já o enterro está marcado para às 17h, no Cemitério do Bonfim.
Considerada uma das maiores cantoras líricas do Brasil, sua voz – comparada por Ferreira Gullar a “um pássaro voando” – ecoou em palcos internacionais, conquistando críticos, maestros e plateias desde as ruínas da Babilônia até as salas de concerto da Europa e dos Estados Unidos.
Biografia
Nascida em Mesquita, no Vale do Rio Doce, e radicada em Belo Horizonte desde a infância, Maria Lúcia foi a maior intérprete de Villa-Lobos no mundo, segundo Bidu Sayão, que a considerava sua “única sucessora”. Sua voz já foi descrita por Carlos Drummond de Andrade como “ouro que não se destrói”.
Formada em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pela qual recebeu o título de Doutora Honoris Causa em 2016, Maria Lúcia não se limitou ao canto: escreveu livros infantis, colunas de jornal e deixou uma discografia de 20 CDs e LPs, incluindo o último trabalho, “Acalantos” (2012), com cantigas de sua autoria.
Bajulada por personalidades como JK e Tancredo Neves, elogiada pelo The New York Times e pelo cineasta Glauber Rocha (para quem cantou no velório), Maria Lúcia nunca perdeu a modéstia. “Ela não gostava de badalação”, lembrou sua irmã Dedéia, em entrevista à reportagem, no ano passado. Mas sua presença era magnética: retratada por artistas como Inimá de Paula, era conhecida pela beleza e pelo charme que cativavam até os mais céticos.
Fundadora do Madrigal Renascentista (1956), grupo que se apresentou na inauguração de Brasília, Maria Lúcia levou a música mineira ao mundo, interpretando desde óperas como “La Traviata” até clássicos populares, como “Travessia”, de Milton Nascimento e Fernando Brant. Foi inspiração até para Tom Jobim, que compôs a melodia de “Sabiá” após ouvi-la cantar.
Fonte: O Tempo