CIDADE

Além da precariedade de insumos, detentas vivem a realidade do abandono das famílias em Uberaba

Larissa Prata
lpciabotti@gmail.com
Publicado em 13/10/2021 às 06:23Atualizado em 18/12/2022 às 16:39
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A pobreza menstrual ganhou destaque na última semana após o veto presidencial à distribuição gratuita de absorventes a mulheres em situação de vulnerabilidade. Contudo, o problema é mais antigo do que se imagina, inclusive em Uberaba. É o caso das detentas na ala feminina da cidade.

A advogada criminalista Roberta Toledo (foto), que até bem pouco tempo atrás ocupava a diretoria do Conselho da Comunidade, uma entidade sem fins lucrativos voltada à ressocialização de presos, revela a precariedade da situação das mulheres encarceradas. “O Estado dá uma pedra de sabão por mês para elas tomarem banho, lavar calcinha, lavar sutiã, porque isso não vai para a lavanderia. Absorvente é um pacotinho. Nós estamos falando da pobreza menstrual. E um agravante que é: poucas presas podem receber sacolinha dos familiares, que tem xampu, condicionador, sabonete, absorvente”, contou em entrevista ao Pingo do J.

Lavar a roupa de baixo é obrigação delas, já que são peças de vestuário que não vão para a lavanderia. Roberta Toledo acrescenta, ainda, que graças ao trabalho do Conselho da Comunidade, doações de xampus e condicionadores, por exemplo, eram viabilizados às mulheres encarceradas. Além disso, outras doações também proviam sabonetes e absorventes.

Mas não é só a falta de suprimentos básicos à sobrevivência que as mulheres vivenciam na pele. O abandono é uma realidade para a grande maioria das detentas. “As famílias visitam os homens, mas as famílias abandonam as mulheres presas. Existe um preconceito da mulher criminosa com relação ao homem criminoso. Então, as esposas visitam os presos, mas os maridos não visitam as presas. Geralmente há um abandono”, pontua a criminalista.

À frente do Conselho da Comunidade, Roberta Toledo encabeçou diferentes projetos para a ressocialização de presos e o estreitamento de laços com os familiares foi um deles. “Eu tentei algumas vezes sustentar projetos para dar convivência delas a um filho, por exemplo, porque muitas vezes elas não viam mais os filhos, não tinham mais convívio com os filhos, e o que mantém um preso lutando para melhorar chama-se família, chama-se filho. Quanto mais você afasta ele do vínculo familiar, mais ele desiste de ser melhor como ser-humano”, pondera.

Contudo, como a grande maioria dos projetos, não foi para frente. O motivo é tão simples quanto brutal, na avaliação de Roberta: falta de vontade. “O que eu lamento e que sempre batalhei é que a ressocialização não é uma prioridade nem do Judiciário, nem do Ministério Público nem da própria Secretaria de Segurança Pública. Então para os projetos a gente tem que tentar contemplar muitas pessoas”, finaliza.

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