Quem inventou a frase que diz que “mineiro não perde o trem”, definitivamente, não me conhecia. Eu poderia, inclusive, perder horas aqui contando como os atrasos sempre fizeram parte da minha vida. Na escola, estudei à tarde até não poder mais. Tudo para driblar minha dificuldade em acordar cedo. Quando fui obrigado a me matricular no período matutino, quase sempre perdia a primeira aula. Já adulto, no quesito trabalho, passei a dar preferência para empresas com horários flexíveis de entrada, porque nunca conseguia chegar na hora estipulada para todos. E nos relacionamentos? Quando por lá vivi, levei um “fora” de um affair em Londres – conhecida como a capital da pontualidade – só porque eu sempre me atrasava de três a sete minutos nos nossos dates. Nesse ano, fui comemorar meu aniversário durante uma viagem. No itinerário, um percurso de trem, pelas antigas estradas de ferro, me levaria da capital mineira a Vitória, no Espírito Santo. O trem partiria às 7h, em ponto. Até a estação, muita coisa aconteceu: o ônibus quebrou e fui obrigado a trocar de veículo, os carros de aplicativos cancelaram inúmeras vezes a minha corrida e o resultado foi aquele que você, leitor, já esperava. As portas estavam fechadas há exatos 15 minutos antes da partida do trem. Vi a locomotiva partir como quem se despede, literalmente, do tempo que já passou. Em vão. E como termina então essa história? Para além de ser mineiro, eu sou brasileiro. Aquele clichê de que “não desistimos nunca”, sempre pode ser usado a qualquer hora. Corri para a rodoviária da cidade e peguei o primeiro ônibus, faltando 11 minutos para partir, com destino às praias capixabas. Contrariando a canção “Mineiro não perde trem”, do Trio Parada Dura, que diz “Ai meu bem, tô chegando lá de fora. Mineiro não perde hora. Mineiro não perde o trem”, eu perdi aquele trem, sô! Não satisfeito, resolvi ir atrás da explicação para essa famosa expressão. Aliviado, descobri que, há séculos atrás, depois de instaladas as ferrovias e suas estações pelo país, os mineiros não perdiam nunca o trem devido ao fato de que... o atraso dos comboios era quase uma regra geral, ou seja, até os mais atrasados (lê-se eu) conseguiam embarcar tranquilamente. E foi assim que, diante dessa controvérsia, ainda me sinto muito mineiro. Até mais do que antes. O ponto é que não há como negar: eu sou uma pessoa atrasada. Mas não pense que eu me orgulho disso. Tento melhorar? Sim. Mas depois de uma vida toda tardia, morosa e demorada... será que ainda dá tempo?!
Vinícius Silva
Uberabense, jornalista e um apaixonado pela arte de ouvir e contar histórias
@mealugoparaouvirhistorias