POLÍTICA

Minas Gerais começa por Delta

Luiz Henrique Cruvinel
Publicado em 22/10/2021 às 06:50Atualizado em 19/12/2022 às 01:35
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Nesta sexta-feira, 22 de outubro, o município de Delta comemora 26 anos de emancipação e independência político-administrativa. Ao longo das quase três décadas, a cidade colecionou marcos, revitalizou a infraestrutura, garantiu investimentos e hoje figura entre os municípios mais relevantes e atuantes do interior de Minas Gerais.

O privilégio da equidistância das capitais paulista e mineira garantiu a Delta capacidade industrial e comercial ímpar. Rodeada por indústrias e impulsionada pelo mercado forte, a cidade comemora 26 anos de emancipação em bonitos louros.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Delta tem uma população estimada de 10.994 pessoas, o que a coloca como importante ponto administrativo da região. Além disso, a expansão municipal está acelerada, com o acerto das contas da Prefeitura e o constante diálogo com o Governo Estadual.

Sequer a pandemia foi capaz de conter o ímpeto empreendedor da cidade. Na realidade, o posicionamento e as condições do município fizeram com que Delta fosse alvo de estudo sobre a ação da Covid-19. A convite da Universidade de São Paulo (USP), o município faz parte de uma pesquisa para apontar quais variantes do coronavírus circulam na região e o nível de eficiência das vacinas contra cada uma das mutações identificadas. Outro dado que deve ser extraído das análises é o tempo de proteção garantido pelas vacinas.

Desta forma, é seguro dizer que a cidade é hoje um polo industrial, comercial e até científico nos berços do Triângulo Mineiro.

O Jornal da Manhã convidou o atual prefeito, Marcos Roberto Estevam, para contar um pouco mais sobre a situação otimista e formosa de Delta. Confira a entrevista completa:

Jornal da Manhã - Quais obras estão em andamento em Delta atualmente?

Marcos Estevam - Hoje temos construções de avenidas, temos a rodoviária, que está para ser entregue, e temos investimentos futuros para fazer, como o Centro Integral de Educação de 90 mil metros quadrados de área, com campo de futebol, quadras, pista de atletismo e mais.

JM - O investimento vem de onde? Do Governo Federal? Iniciativa privada?

ME - Custeio próprio da Prefeitura.

JM - Durante a pandemia, com as dificuldades, como foi articular as ações de investimento?

ME - Em 2017, quando iniciamos o primeiro mandato, Delta não tinha como comprar uma bala. Delta devia R$14 milhões, sendo R$10 milhões para o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), que foram as estruturas feitas na cidade, como asfalto e entrada. E isso tudo ficou para o nosso governo pagar. Quando entramos, a Prefeitura não conseguia cumprir a folha de pagamento. Então, nós entramos já fazendo um “choque de gestão”, diminuindo as secretarias. Cidade pequena não tem necessidade de ter 18 secretarias. Nós temos menos da metade disso, atualmente. Fomos tirando os cargos de primeiro escalão, tentando enxugar a folha de pagamento e fazendo negociações das dívidas anteriores para conseguir pagar. Eu tenho orgulho de dizer hoje que Delta não deve nada a ninguém, financeiramente. Tudo foi colocado em dia. Durante esse tempo, pagamos mais de R$14 milhões. Quando chegou a pandemia, a arrecadação caiu e a inflação bateu à porta de todo mundo – e não é diferente na Prefeitura. Antes, você comprava o quilo da ferragem por um valor, e agora está o dobro. O combustível dobrou, que é um produto que utilizamos muito na Prefeitura, com as ambulâncias, ações sociais... Nós já estávamos com o choque de gestão, então, não sentimos o impacto desta pandemia e hoje conseguimos ter dinheiro em caixa.

JM - Então, houve um corte de gastos profundo?

ME - Sim, para poder acertar a vida da Prefeitura. E, quando terminamos, chegou a pandemia. Recuamos, começamos algumas obras, terminamos outras e estamos programando para poder fazer um canteiro de obras. Por mais que as coisas aumentaram, dobraram de preço, não temos déficit no Governo, temos superávit.

JM - A perspectiva é positiva?

ME - Eu tenho R$10 milhões em caixa hoje. Para uma cidade como Delta, é muito. Mas também não posso chegar e falar “vou trocar os carros”, não. Tem que seguir o planejamento orçamentário. Por exemplo, R$4,5 milhões eu tenho que gastar em Educação. Então, não é chegar e dizer “por que você não faz isso e isso?”.

JM - Como está a vacinação contra a Covid-19 em Delta?

ME - Estamos vacinando crianças de 12 anos já. E o Estado anda articulando bem conosco.

JM - Já é possível notar a diferença com a volta das atividades presenciais?

ME - Isso vai demorar um pouco, porque a inflação está batendo à porta. Vários setores retomaram a produtividade, mas não têm o produto no mercado. Se não está tendo produto, o valor aumenta muito. Então, com todos os setores voltando assim, é um complicador não só para Delta, mas para todo o país. A gente não consegue ter uma perspectiva no momento, pode ser mais visível daqui um ano. O cidadão comum ainda pode criar outras alternativas, mas a Prefeitura tem que manter e arcar com serviços de boa qualidade. A crise hídrica, problemas de queimadas, ventos, também prejudicam a nossa região. Temos que ter pulso forte, trabalhar firmes novamente e, nesse momento de crise, nos sobressairmos. Assim como em 2017, com o Governo de Minas deixando de repassar dinheiro a vários municípios, Delta conseguiu manter o pagamento em dia. Foi um desafio tremendo, uma crise muito forte, quando não tínhamos dinheiro para pagar as contas. Estamos trabalhando forte, sério, com corte de gastos, e hoje estamos em superávit. Não foi um trabalho só meu, mas de toda a equipe. Todo mundo ajuda, ninguém esbanja nada. E tem que ser dedicado, trabalhar 24 horas por dia.

JM - Como estão os processos seletivos para a Prefeitura? Está tendo adesão dos cidadãos de Delta?

ME - Não só de Delta, mas de toda a região. Hoje, Delta tem o privilégio de dizer que é um dos poucos municípios que pagam o piso salarial para os professores, com um plano de carreira que eu desafio a dizer que é um dos melhores. Então, isso atrai muita gente. Neste ano, está proibida a abertura de concurso público, mas em janeiro já queremos abrir para qualificar o nosso atendimento.

JM - Delta está bem localizada, estrategicamente. É quase um privilégio, não?

ME - Tem os prós e contras. Na cidade tem os pequenos comércios, que enfrentam as grandes potências. Então, é difícil para o pequeno empreendedor. Mas o mundo está aí, é a competitividade.

JM - Quais são as medidas tomadas em Delta para enfrentar as crises hídricas, incêndios, enchentes?

ME - No nosso Governo, criamos a Defesa Civil e podemos orientar as pessoas. Graças a Deus, a nossa cidade não sofre com enchentes, devido à nossa área ser praticamente plana. Nós sofremos o que todas as cidades sofreram com os ventos, que quebraram várias torres de energia. Temos que tomar iniciativa, dentro da Prefeitura, e dialogar com os órgãos empresariais, municipais, de toda a região, para trabalharmos mais essa questão do meio-ambiente.

JM - Como é feita a captação hídrica em Delta?

ME - Por poços artesianos. Não compensa tratar água dos rios, quando você tem o Aquífero Guarani bem embaixo.

JM - Com a flexibilização das medidas e a volta das viagens, como a Prefeitura trabalha o turismo em Delta?

ME - Delta, por ser um município novo e uma área pequena, não tem tantas cachoeiras, só tem o rio [Grande]. O que temos que fazer é criarmos o turismo rural, nos canaviais, porque não adianta inventarmos coisas que não conseguimos fazer. Precisamos preparar Delta para receber essa demanda no futuro, por isso começamos a pensar na unidade de tratamento de esgoto, por exemplo, que pode custar até R$24 milhões. É um compromisso pelo menos iniciar esse projeto.

JM - Como foi a conversa com a Universidade de São Paulo para que a pesquisa fosse realizada em Delta?

ME - A pesquisa foi adiada por falta de insumos, mas deve começar em novembro. Delta é interessante para a USP porque é uma cidade com posicionamento geográfico privilegiado. Hoje, entram 3.500 veículos por dia na cidade. Todos os nossos bairros são monitorados e todas as entradas da cidade. Temos uma indústria que, direta e indiretamente, fornece quatro mil empregos a pessoas de várias regiões. E, por isso, a USP nos procurou para fazer a pesquisa. É preciso tentar entender melhor a Covid-19 e Delta pode servir de campo largo para os estudos.

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