CIDADE

Três pessoas morrem em Uberaba aguardando leitos de UTI covid

Da Redação
Publicado em 14/04/2021 às 19:33Atualizado em 18/12/2022 às 13:01
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A morte de pacientes à espera de leitos em Uberaba acende alerta vermelho na saúde pública e acrescenta capítulo triste à falta de medicamentos para aqueles em situação grave. A situação vem sendo acompanhada pelo Jornal da Manhã e pela Rádio JM. Após a morte de três pessoas à espera de leito de terapia intensiva em Uberaba, denunciada em primeira mão no JM News 2ª edição desta quarta-feira (14), a Prefeitura Municipal se posicionou sobre o assunto nesta tarde e revelou que medidas de contingenciamento já estão sendo tomadas, mas não especificou quais. O motivo, segundo informou a Secretaria Municipal de Saúde, é o grave desabastecimento de sedativos.

Os três óbitos foram confirmados ainda ontem pela administração municipal. Dois deles esperavam por vaga em unidade hospitalar e o terceiro paciente deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento, mas foi a óbito em seguida, devido a gravidade do estado. Também em nota enviada à produção do JM News, a Prefeitura informou que o levantamento mais recente, feito com base em informações obtidas até às 11h da manhã de ontem (14), apontava para oito pacientes aguardando leitos de UTI e outras onze pessoas esperavam leitos de enfermaria Covid. O curioso é que o boletim epidemiológico também trouxe a informação de que dos 205 leitos de enfermaria em Uberaba, apenas 155 estavam ocupados.

No começo da semana, à Rádio JM, o coordenador da Central de Regulação do Sus Fácil, José Natal França, revelou que cidades do Triângulo Sul já registram óbitos de pacientes graves que não conseguiram transferência a tempo. “Estamos em dificuldade de transferi-los para cá. Tem pacientes intubados em Sacramento, Fronteira, Iturama, Frutal, onde não tem CTI, inclusive, esperamos transferi-los para Uberaba. A dificuldade nesse momento - porque a vaga existe, porém nós estamos com problema de medicamento. Então nós estamos com dificuldade de transferi-los neste momento. Cada um nessas cidades estão tentando se virar com esses pacientes. Houve óbitos? Lógico que houve óbitos. Nessas cidades praticamente com poucos recursos, houve óbitos, infelizmente isso está acontecendo. Estamos tentando viabilizar para ver se chegam medicamentos para Uberaba para transferi-los para cá. Estamos aguardando”, revelou o coordenador do Sus Fácil à jornalista Ge Alves. Segundo ele, ao todo eram 18 pacientes, sendo seis para unidade de terapia intensiva. 

A reportagem do Jornal da Manhã levou diversos questionamentos à assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde com relação à situação das internações e dos medicamentos sedativos, mas não recebeu resposta. Em nota enviada a toda a imprensa, a pasta se restringiu a confirmar os óbitos e esclarecer que "a Secretaria Municipal de Saúde lamenta e externa seus sentimentos por essas e por todas as mortes. E nesta data (15/04/2021), adotou medidas urgentes para redobrar a prevenção de ocorrências desta natureza". Contudo, quais medidas urgentes são essas não foram esclarecidas, apesar de questionadas. Ao Jornal da Manhã, posicionaram que "são medidas muito técnicas, envolvendo profissionais e hospitais. Então tem de ser tudo bem registrado. As medidas demandam alterações em sistemas, documentos", esclarecendo, ainda, que "em breve daremos detalhes". O espaço permanece aberto à manifestação.

Vale lembrar que há pelo menos uma semana o Hospital Regional, em Uberaba, não está mais recebendo pacientes graves justamente pela situação grave de desabastecimento de medicamentos. Tratativas acontecem junto ao governo do Estado e também ao Ministério da Saúde para que a cidade tenha condições de tratar os próprios pacientes e também os da região, que têm a cidade como referência. Na semana passada, o deputado Franco Cartafina (PP), inclusive, explicou que o desabastecimento é resultado de "inconsistência de dados" entre os números reais do município e as informações que o Ministério da Saúde tinha.

A falta de sedativos é realidade em todo o país. No Rio de Janeiro, os pacientes intubados no Hospital Municipal Albert Schweitzer, no Realengo, foram amarrados porque acordaram. “Na sala vermelha, os pacientes estão intubados e amarrados, estão vivenciando tudo acordado e sem sedativo, pois não tem nenhum sedativo, acabou tudo. Só para o CTI e mesmo assim estão sendo rediluídos e não são suficientes para todos os pacientes. Eles ficam acordados, sem sedativos, intubados, amarrados e pedindo para não morrer”, relatou enfermeira ao G1. Essa possibilidade já havia sido levantada pelo governador Romeu Zema (Novo) durante entrevista coletiva na semana passada. Veja a íntegra da nota enviada à imprensa pela assessoria da Secretaria Municipal de Saúde:

Sobre a ocorrência de três óbitos em abril nas unidades de pronto atendimento, a Secretaria Municipal de Saúde tem a esclarecer o seguinte:

. Um dos pacientes deu entrada no dia 09/04 na UPA Parque do Mirante, com teste positivo para COVID-19 e sintomático, havia oito dias. Apresentava quadro avançado da doença. No dia 10/04, teve piora no seu quadro e à noite apresentou parada cardiorrespiratória, pela gravidade da enfermidade.

. No dia 11/04, outro paciente deu entrada na UPA São Benedito com sinais e sintomas característicos de COVID-19. Houve exame para COVID-19 e o paciente testou positivo. No dia 12/04, foi pesquisada vaga no Sis-Reg (Sistema de Regulação), para internação hospitalar. Às 17h30, dessa mesma data, o paciente apresentou parada cardiorrespiratória e foi intubado.

. Importante salientar que os dois pacientes receberam todo o tratamento necessário nas UPAs, inclusive com capacete ELMO e intubação. Toda a assistência e acolhimento necessário, ao alcance dos médicos, foram prestados. Como o estado dos pacientes era de doença COVID-19 avançada, houve parada cardiorrespiratória com tentativa de reanimação, porém sem êxito.

. Necessário dizer que no dia 11/04 os hospitais brasileiros já enfrentavam a falta de medicamentos no mercado para a manutenção de pacientes intubados (kit de intubação), como é público e notório. O Hospital Regional, por sua vez, embora tivesse vagas de UTI, já sofria também com a escassez de medicamentos para intubação, limitado ao atendimento de 25 pacientes. Dada a escassez de medicamentos, o HR estava impossibilitado de receber pacientes naquela data.

. O terceiro paciente foi atendido na UPA São Benedito, no dia 02/04, e ao entrar nesta unidade apresentou parada cardiorrespiratória. Neste caso também foi tentado tudo o que estava ao alcance dos médicos, porém sem sucesso.

. A Secretaria Municipal de Saúde lamenta e externa seus sentimentos por essas e por todas as mortes. E nesta data (15/04/2021), adotou medidas urgentes para redobrar a prevenção de ocorrências desta natureza.

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