POLÍTICA

Sem sedativos, Hospital Regional não admite mais pacientes que necessitem intubação

Larissa Prata
Publicado em 09/04/2021 às 07:27Atualizado em 19/12/2022 às 03:59
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A falta de medicamentos para pacientes graves em Uberaba volta aos holofotes da pandemia, mais uma vez de forma negativa. Com novas cepas, sendo a maioria delas mais graves, o desabastecimento de sedativos preocupa bastante. Questionado pelo Jornal da Manhã, o diretor administrativo do Hospital Regional José Alencar, Frederico Guglielmi Ramos, informou que novos pacientes intubados já não estão sendo admitidos devido à falta desses medicamentos.

A situação grave enfrentada no país foi comentada pelo governador Romeu Zema (Novo) durante coletiva de imprensa na manhã de ontem (8). Segundo ele, o estoque em Minas Gerais não é superior a três dias e o alerta é para o quão breve essa situação pode se agravar. “Pacientes intubados podem acordar por falta de sedativo”, explicou o governador.

Em Uberaba a situação não é diferente, afirma a assessoria de imprensa da Prefeitura. “Uberaba encontra-se na mesma situação que está sendo vivida por todo o Estado. Está escasso os medicamentos utilizados em UTI para sedação e relaxante neuro-muscular, que são necessários para manter o paciente intubado. O Governo Municipal está trabalhando na perspectiva de resolver a situação e já acionou o Governador do Estado, o Secretário de Saúde do Estado e o Ministério da Saúde”, informou ao Jornal da Manhã, em nota.

Sem estoque para o dia, o Hospital Regional buscou insumos com outras instituições parceiras e, graças a doações recebidas, conseguiu manter as intubações nesta sexta-feira. Contudo, o futuro próximo, já amanhã, ainda é incerto. "Nós conseguimos alguns empréstimos com alguns parceiros de ontem para hoje. Nós temos estoque para a data de hoje. Até amanhã esse estoque vai estar zerado", explicou Frederico Ramos. 

A situação tem sido contornada pela gestão do HR. "A gente quer deixar claro que os pacientes que estão aqui intubados nós estamos dando a melhor assistência para permanecerem na ventilação mecânica. Esses nedicamentos são usados por 24h para o paciente manter na ventilação mecânica adequada. Nós já estamos utilizando medicamentos alternativos em conjunto com os de primeira escolha para a gente tentar estender ao máximo possível o nosso estoque, mas é um estoque crítico mesmo com as vias alternativas", disse o diretor técnico do hospital, Diego Amad Reck.

O desabastecimento é resultado de "inconsistência de dados", segundo explicou o deputado federal Franco Cartafina (PP). "O que houve foi uma inconsistência de dados, ou seja, informações que o Ministério da Saúde, que é o responsável pela distribuição para os Estados, tinha não batiam com a realidade", informou. Contudo, representantes dos governos se reuniram nesta manhã com demais lideranças para alinhar o abastecimento para o mais breve possível. "Foi garantido pelo representante do Ministério da Saúde um apoio emergencial e a Secretaria de Estado pediu para que a gente possa conseguir esse apoio ainda no dia de hoje, colocando toda a estrutura do estado à disposição para fazer a busca desses insumos", finaliza o deputado. 

Em paralelo, Frederico Ramos explica que a direção do Hospital Regional continua em busca de outras alternativas. "Nós tivemos informação que o governo federal recolheu toda a produção desses sedativos há algum tempo e não estamos conseguindo encontrar no mercado já há algum tempo esses sedativos, e essa distribuição ficou, segundo informações que tivemos, que o governo federal ia repassar para o governo do estado e o governo do estado vai repassar às instituições de saúde, mas em contato com o estado também soubemos que o estado está com esse estoque zerado. Nós estamos buscando a parceria com outros hospitais para tentar a importação direta, mas tem uma série de dificuldades também para essa importação, o prazo para entrega não é tão rápido. Então nós estamos trabalhando com o estoque de um dia", explica.

A falta de medicamentos não é novidade durante a pandemia em Uberaba. A cidade enfrentou grave problema com esse desabastecimento no mês passado e uma das questões apontadas foi a dificuldade da indústria farmacêutica em acompanhar o aumento da demanda. De acordo com o governador Romeu Zema, a burocracia também entrou na equação para agravar. “Antes quem fazia essa requisição dos sedativos, eram as próprias unidades. Agora quem faz é o Ministério da Saúde que não está conseguindo distribuir no tempo adequado”, explicou, durante a coletiva.

A reportagem acionou as assessorias de imprensa dos hospitais Mario Palmério e São Domingos, que também atuam no combate à Covid-19. 

Por atender tanto pacientes Covid como não Covid, o MPHU explica que é difícil de dimensionar, hoje, o tempo de estoque, visto que a demanda varia muito pelo perfil de pacientes recebidos no MPHU. "O Mário Palmério não atende somente pacientes com Covid-19 e os leitos não-Covid também consomem grandes quantidades dos chamados “Medicamentos Kit Intubação". Até o momento, apesar de toda dificuldade, todos os pacientes foram atendidos normalmente, respeitando-se as necessidades individuais de cada um. As dificuldades podem aparecer a partir dos próximos dias", informou, em nota. "Nesta semana, o Hospital começou a receber pequenas quantidades de medicamentos da Secretaria Estadual de Saúde, mas ainda são insuficientes para garantir um estoque satisfatório. A previsão é que o MPHU receba, até o fim do mês de abril, Propofol e bloqueadores neuromusculares. Não há previsão de importação do medicamento Midazolam. Para minimizar a falta desses insumos, o MPHU já trabalha com a substituição das apresentações farmacêuticas para que os pacientes não sejam prejudicados", finalizou a nota enviada ao JM. Vale ressaltar que, a exemplo do Hospital Regional, o MPHU também trabalha com vias alternativas para evitar que estoques de insumos sejam zerados.

Situação semelhante enfrenta o Hospital e Maternidade São Domingos. Nesta sexta-feira ainda há medicamentos disponíveis para intubação de novos pacientes, assegura a assessoria de imprensa do hospital. Mas a situação é bastante delicada. "No Hospital São Domingos essa é mais uma preocupação constante. Existe um planejamento para compra com antecedência. Todavia, como é realidade em todo o país, fornecedores têm avisado de última hora que terão desafios em cumprir a entrega de alguns medicamentos. Com isso os estoques estão baixos", explica, em nota. "Várias atitudes já foram tomadas. A Unimed Uberaba estabeleceu um Comitê com outras Unimeds para reforçar a necessidade da entrega a partir de compras conjuntas. Também já oficializou os órgãos responsáveis solicitando autorização para importação direta. Tem uma equipe própria de farmacêuticos especializados trabalhando no sentido de buscar alternativas. Todas as medidas são prioridade. Entretanto, volta-se a alertar para o comportamento do mercado que apresenta alto risco de desabastecimento. Para os Hospitais grupos de fármacos necessários à intubação e manutenção de ventilação mecânica são imprescindíveis", finaliza a nota oficial. 

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