Dias atrás, em várias cidades do Brasil, foram promovidas passeatas em defesa dos direitos dos animais. Em São Paulo, segundo testemunho dos promotores, pelo menos dez mil pessoas estiveram presentes na avenida Brasil. Diversos cartazes eram exibidos: “Brasil, mostra a tua cara limpa de maldade”, “Chega de impunidade para crimes contra os animais”, “Os animais pedem justiça”, “Au, au, au, justiça animau” (sic) e muitos outros.
Achei muito justa a passeata, mas o alcance dos protestos me deixou dúvidas. Quando se fala nesse assunto, logo se pensa em cães e gatos. Acontece que o termo “animal” tem um conceito muito vasto. Aí, fico pensando se todos os animais têm direitos a ser defendidos? Não consigo descobrir quais os direitos da cascavel, do escorpião, do Aedes Egipti. Eles também são animais. Quais os direitos dos ratos, das baratas, dos carrapatos? Posso matá-los? Eles têm ou não direito à vida? E os barbeiros?
A gente entende muito bem que os promotores se referem aos gatos, aos cães, aos animais que não constituem perigo para a vida humana. Alguns são mesmo indispensáveis. O problema está na generalização. Em saber distinguir.
Os cães, os gatos, certas aves, sempre conviveram em nossas casas. É muito difícil encontrar uma casa onde não haja um desses animais chamados “domésticos”. São amados pelos seus donos como se fossem humanos. Tenho uma prima que jura que o seu “workshire” entende tudo o que ela fala. Não responde, mas... presta muita atenção. Uma pessoa, quando soube que eu vivia sozinho, aconselhou-me a adotar um cão ou um gato e justificou: “eles afastam as coisas ruins”. Como não acredito em maus fluidos, não tenho animais em casa. Gosto muito de cães. Já tive vários. Um deles era um “Golden Retriver”. Era um belo cão de companhia. Como eu ficava muito pouco em casa, ele sentia minha ausência e sofria. Eu o dei, embora sofrendo. Lembro-me de meus quatro anos. Morava na fazenda e tinha um cachorrinho. Chamava-se Piloto. Meu avô caiu de amores por ele. Mentiu dizendo que me daria um automóvel em troca. Foi assim que perdi meu companheiro. Meu avô! Mentiroso e trapaceiro. Não entendo como se tenha coragem de iludir uma criança. Um padre italiano declarou a um jornalista que os cães tinham alma (!). Só não falou se rezavam e confessavam seus pecados. Em tudo há sempre o lado ridículo.
Meu leitor (ou leitora), ame seus animais de casa. São amorosos, nos distraem, são agradecidos e fingem que nos entendem, mas não exagere.