O pássaro Dodô está extinto desde o século XVII (Foto/Reprodução)
A ciência está se aproximando cada vez mais de um cenário que, até pouco tempo atrás, pertencia apenas à ficção científica: a possibilidade de trazer de volta à vida espécies extintas há milhares de anos. À frente desse movimento está a Colossal Biosciences, uma startup dos Estados Unidos que tem como meta utilizar tecnologias avançadas de engenharia genética para reverter a extinção de animais que desapareceram da Terra.
Criada em 2021 pelo empresário Ben Lamm e pelo renomado geneticista George Church, professor da Universidade de Harvard, a empresa já arrecadou cerca de US$ 435 milhões (equivalente a R$ 2,6 bilhões) para impulsionar seus projetos. Entre os candidatos à "ressurreição" estão nomes icônicos da pré-história, como o mamute-lanoso, o tigre-da-Tasmânia e o dodô — além do recém-anunciado projeto voltado ao lobo-terrível, espécie carnívora que desapareceu há cerca de 12 mil anos.
A estratégia da Colossal envolve o uso de DNA antigo extraído de fósseis e espécimes preservados, aliado a técnicas como clonagem e edição genética por CRISPR, permitindo modificar o genoma de espécies modernas próximas às extintas. No caso do mamute-lanoso, por exemplo, os cientistas partem do elefante asiático, seu parente mais próximo ainda vivo, para reconstruir características genéticas adaptadas ao clima glacial.
Mais do que uma curiosidade científica, a empresa defende que esses projetos têm implicações profundas para o meio ambiente e para a conservação da biodiversidade. Segundo a Colossal, reintroduzir essas espécies pode restaurar ecossistemas degradados e oferecer novas ferramentas para proteger espécies atuais em risco de extinção.
"Quando perdemos esses animais, perdemos também os serviços ecológicos que eles forneciam. Restaurá-los pode ser uma forma de reequilibrar os danos causados pela ação humana ao planeta", afirmou Kenneth J. Lacovara, paleontólogo e conselheiro científico da startup.
Além do mamute-lanoso, a startup está empenhada na recriação do tilacino, ou tigre-da-Tasmânia, que foi visto pela última vez em 1936, e do dodô, extinto desde o século XVII. Para este último projeto, a Colossal estabeleceu parceria com a Mauritian Wildlife Foundation, ONG especializada na preservação da fauna da Ilha Maurício, onde o dodô vivia.
Apesar do entusiasmo, a proposta da Colossal não está isenta de críticas. Especialistas em bioética e conservação ambiental alertam para os riscos de priorizar a biotecnologia em detrimento da preservação de habitats naturais e da proteção das espécies atualmente ameaçadas.
Ainda assim, o avanço acelerado da biotecnologia faz com que a ideia de "dessincronizar a extinção" ganhe força. A Colossal Biosciences acredita que, ao desafiar os limites da ciência, pode não apenas reescrever o passado da Terra — mas também influenciar diretamente o futuro da vida no planeta.