Para o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, a Igreja Católica enfrenta dificuldades em adaptar-se às transformações urbanas e sociais do país (Foto/Reprodução)
A hegemonia católica no Brasil, consolidada desde os tempos coloniais, pode estar com os dias contados. Embora o país ainda concentre o maior número de católicos no mundo, projeções recentes indicam que, até o início da próxima década, os evangélicos deverão assumir a dianteira como principal grupo religioso brasileiro.
Segundo estimativas do demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, ex-pesquisador da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, até 2032 os evangélicos representarão cerca de 39,8% da população, superando os católicos, cuja presença deverá cair para 38,6%. A inversão marca uma mudança histórica no perfil religioso do Brasil.
A projeção baseia-se em dados do Censo Demográfico de 2010, quando os católicos já haviam recuado para 64,6% da população — um declínio significativo frente aos 95% registrados em 1940. Embora o IBGE ainda não tenha divulgado os números atualizados do Censo de 2022, a tendência de queda do catolicismo e crescimento das igrejas evangélicas se mantém constante nas últimas décadas.
Apesar da redução no número de fiéis, a Igreja Católica brasileira ampliou sua estrutura institucional. Nos últimos 25 anos, o número de padres saltou de 16,8 mil para 22,5 mil. As paróquias também se expandiram: passaram de 12,6 mil para mais de 18 mil, um crescimento de quase 44%. No entanto, o número de mulheres religiosas — como freiras e monjas — segue em trajetória oposta. Desde 1969, houve uma queda de aproximadamente 45%, reduzindo o contingente de 42 mil para pouco mais de 23 mil.
Para Alves, a Igreja Católica enfrenta dificuldades em adaptar-se às transformações urbanas e sociais do país. “O catolicismo não consegue acompanhar o ritmo das mudanças nas grandes cidades”, avalia. Já o discurso evangélico, segundo o demógrafo, demonstra maior sintonia com a lógica capitalista, o que contribui para sua rápida expansão.
Mesmo com a possível inversão, Alves acredita que a disputa por hegemonia religiosa pode se estabilizar nos próximos anos. O cenário previsto é de equilíbrio, com o catolicismo atingindo seu piso histórico e os evangélicos próximos de seu teto de crescimento.