MATRIZ AFRICANA

Padre será denunciado ao MP por ato de intolerância religiosa

Representação contra manifestação do sacerdote em redes sociais, que classificou de profanas as manifestações do Dia da Abolição, será encaminhada pela Cpir e pelo Compir

Tito Teixeira
Publicado em 24/05/2024 às 19:47Atualizado em 24/05/2024 às 19:52
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No dia 13 de maio, grupos de congadas, moçambique e afoxés participaram, como é tradicional, de celebração na igreja Santa Teresinha (Foto/Divulgação)

A Coordenadoria de Políticas de Igualdade Racial (Cpir) e o Conselho Municipal de Promoção à Igualdade Racial (Compir) vão representar contra o padre Valdiney Ferreira Eduardo, pároco da igreja de Santa Teresinha, junto ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). No entendimento do Cpir e o Compir, o religioso cometeu crime de intolerância religiosa contra os adeptos das religiões de matrizes africanas.

O Cpir e o Compir também vão promover ato em protesto à manifestação do padre Valdiney Ferreira Eduardo. Em rede social, o religioso publicou texto considerado ofensivas e intolerantes as religiões de matrizes africanas, cujas comemorações em torno da abolição, ocorridas na igreja, foram consideradas pelo pároco como ato de profanação.

Representantes do Cpir e do Compir, respectivamente Reginaldo da Silva, o Peixinho, e Maria Abadia Vieira da Cruz, informaram que a manifestação está marcada para quarta-feira (29), na praça da igreja Santa Teresinha, e deve reunir novamente os ternos de congadas de Uberaba.

Também no Memorial Zumbi dos Palmares, na avenida Getúlio Vargas, haverá manifestação para esclarecer que a Constituição Brasileira garante o respeito à diversidade religiosa. “Do Memorial, vamos seguir em direção ao nosso território, porque, afinal de contas, a igreja é também o nosso território”, disse Maria Abadia.

Em publicação nas redes sociais, o padre Valdiney Ferreira Eduardo disse que há dois anos está à frente da paróquia Santa Teresinha e que nunca convocou os fiéis para participarem da congada, manifestação cultural que ele classificou como “profanação”. O padre escreveu ainda que a congada ocorre na igreja por determinação da Arquidiocese, que “sempre envia um padre para estar lá”.

O pároco seguiu em sua publicação: “Não é missa. Terminado o evento, sempre rezamos a oração do desagravo e jogamos água benta em todos os lugares”.
A Fundação Cultural de Uberaba “Professor Antônio Carlos Marques” publicou nota de repúdio “ao ato preconceituoso e de intolerância religiosa praticado na rede social em nosso município”. No texto, não é citado o nome do padre.

A Arquidiocese de Uberaba também se manifestou através de nota, assinada pelo vigário-geral, padre Saulo Emílio Pinheiro Moraes. O texto é dirigido aos membros da comunidade afro uberabense, às manifestações culturais de congadas, aos ternos de congos e membros das religiões de matrizes africanas.

A Arquidiocese diz que sempre acolheu essa manifestação de fé e piedade, pertencente ao catolicismo popular e ao sincretismo religioso e “se manifesta veementemente contra qualquer manifestação contrária a isso, velada ou não. Não compactuamos com qualquer tipo de discriminação, ou preconceito, ‘pois somos todos irmãos’ – (Mt 23,8)”.

Sobre as providências que a Arquidiocese tomará em relação ao pároco da igreja Santa Teresinha, a assessoria de imprensa da Cúria Metropolitana informou que o arcebispo dom Paulo Mendes Peixoto se encontra em viagem. Somente após o seu retorno haverá manifestação sobre o assunto.

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