Dia desses participei de um evento em Belo Horizonte a convite do Conselho Regional de Psicologia que me colocou frente a algumas questões...
Dia desses participei de um evento em Belo Horizonte a convite do Conselho Regional de Psicologia que me colocou frente a algumas questões, destas que normalmente não ocupam nossa mente. Imagine-se, caro leitor ou leitora, tranquilo em sua casa, quando chega a notícia de que um filho jovem e saudável sofreu um gravíssimo acidente. Desespero, caos, confusão, sentimento de ter sido injustiçado pela tragédia, perguntas que não querem calar e, em meio a tudo isso, ter de tomar decisões que não podem esperar seu interno se reorganizar. Eis que chega alguém de uma equipe de saúde e, com muito tato e sutileza, sugere que a família doe os órgãos e tecidos do filho já em morte cerebral. Na família as opiniões divergem entre contra, a favor ou tanto faz. Pensem comig Se você não conseguiu vencer seus preconceitos, receios, medos, tabus e mitos que cercam toda questão nova, você acabará não permitindo a doação e, mergulhado no sofrimento que toda perda inesperada provoca, enterrará seu familiar com o corpo íntegro. Se, por outro lado, apesar de toda a dor sentida, você conseguir realizar esse ato de coragem e desprendimento, enterrará seu filho sem alguns órgãos que não lhe farão falta na vida eterna, mas terá a sensação de que ele continua vivo em vários outros seres que voltarão a ter vida normal graças à sua decisão. Nós seres comuns, tendemos a passar longe de determinados assuntos, e doação de órgãos é um deles. Pouco falado, pouco discutido e enquanto isso, apesar dos muitos acidentes, milhares de pessoas morrem em filas de espera por um coração, um rim, um fígado ou uma córnea... Se não fôssemos tão medrosos, conversaríamos mais sobre a morte e teríamos um Plano B para questões como a doação de órgãos. Assim, saberíamos também a opinião e o desejo de nossos familiares sobre o que gostariam que fizéssemos de seu corpo após sua morte. Sem desmerecer ou minimizar o sofrimento de quem sofre perdas, penso que seria um bom parâmetro na tomada de decisões sobre a doação de órgãos, empaticamente trocar de lugar com a família de quem os receberá e imaginar a felicidade e gratidão daqueles que podem ter suas vidas prolongadas ou salvas pelo ato generoso de quem, num momento de intenso sofrimento, consegue transmutar a dor em solidariedade. Pense nisso!...