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Virtude

Márcia Moreno Campos
Publicado em 16/09/2020 às 00:16Atualizado em 18/12/2022 às 09:31
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O que é a virtude, perguntava Sêneca, o filósofo e pensador nascido em 4 a.C. Então respondia: “Julgamento correto e inabalável”. A virtude, como escreveu Ryan Holiday em seu livro “A quietude é a chave”, dá origem às boas decisões, à felicidade e à paz. Ela irradia da alma e guia tanto a mente quanto o corpo. No entanto, diz ele no livro, quando olhamos a vida de Sêneca, fica a impressão de que ele era o tipo de homem cuja ambição não lhe proporcionava paz. Sêneca escreveu eloquentemente sobre a falta de sentido da riqueza, contudo veio a possuir uma enorme fortuna por meios escusos. Ele acreditava em misericórdia, bondade e compaixão, mas ainda assim serviu de bom grado a dois imperadores distintos que provavelmente eram psicopatas. Era como se ele não acreditasse o bastante em sua própria filosofia para pô-la em prática - não era capaz de aceitar por completo que a virtude lhe forneceria o suficiente para viver.

Como são raras as pessoas virtuosas na fala e na prática! Quantos de nós há em que o discurso aponta para um lado e as atitudes caminham na direção oposta? Pregar e agir nem sempre são consonantes entre si. Ninguém em sã consciência se diz a favor da corrupção, mas na hora da ação, quer no cotidiano da vida, quer exercendo uma função pública que lhe permita combatê-la, se cala tornando-se conivente, omisso e até praticante. São muitos os que exaltam o nome de Deus dizendo-se cristãos e paradoxalmente não conseguem sentir empatia pelos seus semelhantes. Para ser virtuoso é preciso ter compaixão, pois o discurso vazio pode até convencer alguns, mas não muda a essência da pessoa. Há ainda os que se dizem patriotas, cantam o hino nacional com a mão no peito, mas ignoram as consequências gravíssimas do aquecimento global causado pela destruição da natureza com desmatamentos e queimadas. Sequer fazem alguma coisa para evitar. A esses, pouco importa o futuro do planeta. Pensam no aqui e no agora, no lucro e na promoção pessoal. São na verdade patriotas de meia tigela, mero enganadores de multidões.

A verdadeira virtude é muito maior do que projetos individuais. O mundo carece de homens e mulheres virtuosos, coerentes no discurso e nas atitudes para voltarmos a acreditar na humanidade. Como disse Carlos Drummond de Andrade “não é coisa fácil decidir se nossa época se caracteriza pelo excesso ou pela míngua de crença”. 

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