ARTICULISTAS

Vida rançosa

Os anos iniciais e finais escolares cumprem, com os alunos

Gilberto Caixeta
Publicado em 23/09/2014 às 19:35Atualizado em 17/12/2022 às 03:33
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Os anos iniciais e finais escolares cumprem, com os alunos, a função de apresentá-los ao mundo do conhecimento científico. Ao chegarem ao Ensino Médio, isso se perde. O que sabe fazer o aluno ao concluir o Ensino Médio no Brasil? Se estiver em uma Educação Técnica, ou com os pais profissionalizados, pode ter algum futuro profissionalizado. Senão é vida pessoal ou Vestibular. Formatura de “Terceirão” é passagem para a vida adulta e festa. Conclui-se o Ensino Básico sem ampliar saberes. Houveram por bem ensinar, ao longo da formação educacional, chavões conceituais, como cidadania, direitos humanos, espaço democrático, mas conteúdos acumulativos de fato se escoaram por entre os dedos do improviso. Ao sair do Ensino Médio, o aluno brasileiro não falará outra língua, nem escreverá a sua e nem tampouco terá noções em Psicologia, Filosofia, Direito. A repetição dos conteúdos o impedirá de qualquer outro novo ou de ampliação dos seus supostos saberes. O Ideb – índice que afere a qualidade educacional – diz que somos bons no início e péssimos ao concluir. Vejo com bons olhos os pensadores da educação que sugerem em seu conteúdo científico, em sua aplicabilidade. Educação não deve ser pensada unicamente em suas vantagens sociais, mas, também, em seus desdobramentos evolutivos. Aqui entramos todos nós. Houve uma imposição equivocada da história, ao pensar que caberia à Igreja e às famílias abastadas a responsabilidade educacional. Começou assim, e se mantém. O Estado ensimesmou-se na regulamentação. Não incluiu, a despeito, a responsabilidade social por esse bem; por isso, a sociedade não a entende como um direito inalienável. Por carência de ciências, temos teses sobre tudo, até quando o objeto é irreal. E pior, há tese, mesmo que o objeto apresentado seja equivocado. Lembram-se da pesquisa errada do Ipea ao afirmar que homens são estupradores? Deixou a pecha aos heterossexuais. Agora, o IBGE, com as suas retificações saídas sei lá de onde. O mesmo ocorre no Ensino Básico. Quem o pensa não aparece, deixa a escola à mercê de teses desnecessárias à formação intelectual do indivíduo coletivo. O Ensino Médio, o Ipea, o IBGE e pesquisas continuam a retratar o que querem. Cuidam de objetos irreais da interpretação subjetiva daqueles que não querem mostrar a realidade e, a qualquer momento, podem refazê-las para atender o público. Tenho uma desmotivação crucial para acessar os meus e-mails, devido ao excesso de informações, que não compõem o meu mundo. Recebo um da presidente da Fundação Cultural, pedindo voto para o candidato dela; do Sindicato de Professores, pedindo para o dele, e que não são os meus, por princípios e minha visão de mundo. Eu me igualo aos alunos que foram à escola e nada daquilo diz respeito. A disparidade de mundo o torna tão rançoso quanto às vaidades pessoais.

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