Espero que o amigo leitor não se canse com a transcrição dos versos de Rodrigues de Abreu, na velha ortografia, detendo-nos hoje no terceiro, quarto e quinto blocos estróficos desse poema
Espero que o amigo leitor não se canse com a transcrição dos versos de Rodrigues de Abreu, na velha ortografia, detendo-nos hoje no terceiro, quarto e quinto blocos estróficos do poema “Dento da Noite”, que se inicia com o verso em que o poeta se confessa ser um médium vidente:
“Sou ‘médium’ e senhor das fôrças ocultas: / por isso eu te disse: // ‘Hás de ficar de novo na vida, / onde terás a sombra das minhas carícias; / onde terás o leito das brancas ovelhas; / onde terás meu amor, como um pássaro preso e feliz, / cantando de dia e de noite, / e a Felicidade ar leve da vida / entrando as janelas amplas e abertas... / Serás como um cacho das uvas que riem nos ramos, / tentando, em namõro, a sêde dos homens: / hão-de êles, / pedindo-te um riso, / fazendo-te assim maior e preciosa à minha ventura. / O pavor que trouxeste do Inferno distante, / no espelho dos olhos pasmados, / há-de fugir, poisando os teus olhos na linda coragem / com que vencerei, ao teu lado, na vida. / De novo encherás, pequenina e leve, / o imenso vazio da minha existência! // Eu sou o senhor das forças ocultas: / hás-de ficar de novo no mundo... / Reencarna-te, Espírito suave da minha ternura!’ // IV / Teus olhos se encheram então, em sonambulismo, / de mais dilatado terror; / teus longos cabelos ergueram-se mais, / e tu me disseste, tremendo de mêdo, / na voz fina e fria do vento nas frinchas: // ‘Não quero! // O tísico triste da tôrre da igreja tossiu tristemente / as quatro da madrugada... / Sumiste, deixando-me em meio da treva e da minha tristeza. // ..... // Só hoje, depois de viver, / compreendo o terror que havia em teus olhos, / o espanto profundo da tua atitude... / É bem superior à Vida o Inferno que os homens criaram / com a sobra bastante dos males da Vida! // V // Sou ‘médium’ e senhor das forças ocultas... // Eu vou chamar para a Vida / as almas dos meus inimigos!”
Cansativo, sem dúvida, este poema, que bem demonstra estar o médium obsidiado, isto é, dominado pelos espíritos das camadas mais inferiores da espiritualidade, chegando eles a insuflar-lhe a ideia de que seja o senhor das forças das trevas, acreditando nas cabalas.
Antes que venhamos a compreender o que é mediunidade e que o Inferno, como é descrito não existe, com explicações de Allan Kardec, percebemos a diferença existente entre mediunismo e Espiritismo, sendo o primeiro comum a todas as crenças religiosas, sobretudo nos cultos afro-brasileiros, que cultivam mais as práticas católicas do que as da Doutrina Espírita.
(*) Clínico geral e psiquiatra