Passeio distraidamente por um shopping da cidade. Montoeira de gente. Gente que vai e vem e que parece nada ter a fazer ali
Passeio distraidamente por um shopping da cidade. Montoeira de gente. Gente que vai e vem e que parece nada ter a fazer ali.
Naquele banco, um casal de idosos, o olhar perdido, não saberia dizer em que mundo, em que tempo, olhar fixado talvez em algum instante quase esquecido da vida. Sinto-os vendo sem ver todo o movimento em sua volta.
Mais ali, adolescentes abertas em sorrisos e pequenos gritos observam os últimos lançamentos da loja de calçados. De repente percebo que parar diante da vitrina iluminada da loja nada mais é que esperar alguns rapazes, também em algazarra, passarem por elas. Olhares se encontram, alguém que conhece outro alguém, apresentações formais, início de amizade ou de namoro em meio a alegrias e encantamentos.
Mais adiante, crianças, quais bandos de pássaros, saltitantes e inquietas, olham demoradamente os atraentes brinquedos, últimos lançamentos daqueles que esperam atrair expectativas e possíveis vendas. Os olhares agora se perdem no silêncio que é levar a mundos encantados, as meninas sonhando com o luxo da boneca Barbie, penteadeiras cor-de-rosa, roupas não mais infantis, mas com a sofisticação adulta, preparando-se já para um tempo que logo chegará; os meninos, sonhando com os rápidos carros que, momentaneamente, os transformam em pilotos de Fórmula 1, ou talvez com os videogames que poderão, desde tenra idade, transformá-los em vencedores no embate da vida, tanto quanto nos embates dos jogos eletrônicos.
Lá na frente, saída de um supermercado, aquela mãe, sacolas nas mãos e filhos pendurados na larga saia, dirige-se, neste início de mês, possivelmente para a humilde casa, ansiosa por chegar para satisfazer a alegria da meninada no encontro, pelo menos mensal, com o consumo supérflu algum chocolate, bolachas recheadas, refrigerante.
Encostado ao balcão daquela loja, o vendedor, desanimado, parece entristecid nada vendera e, sem a porcentagem por venda, possivelmente o passeio programado com a esposa no final de semana estaria comprometido. E vem a tristeza pela decepção que iria causar.
Naquele parecendo formigueiro, sinto serem múltiplos os universos humanos: não sabemos o que se esconde verdadeiramente por detrás de faces tristonhas, de sorrisos abertos, de silêncios demorados, de passos que vão e vêm, na impressão de não saírem do lugar, como se nada procurassem ou se não houvesse um destino a atingir; não sabemos o que move as pessoas ao procurar o burburinho de um shopping movimentado. Seria, talvez, o desejo de espantar os temores, a solidão, as tristezas? Ou seria uma tentativa de, em contato com a alegria do outro, captar também um pouco de alegria? É enigmático o universo interior de cada um...
(*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro