ARTICULISTAS

Variantes linguísticas

Criou-se, nos últimos dias, verdadeira celeuma a respeito do livro didático

Terezinha Hueb de Menezes
thuebmenezes@hotmail.com
Publicado em 21/05/2011 às 20:18Atualizado em 20/12/2022 às 00:13
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Criou-se, nos últimos dias, verdadeira celeuma a respeito do livro didático, Por uma vida melhor, da coleção Viver, aprender, aprovado pelo MEC, de autoria da professora Heloísa Ramos, e distribuído a 485 mil estudantes, com construções de linguagem  consideradas erros pela norma culta. Exemplos: nós pega o peixe, os menino pega o peixe e outros exemplos similares. A autora, segundo consta, quis mostrar a preponderância da língua falada sobre a língua escrita. Tentou explicar seu posicionamento, o que não foi de todo aceito.

Quem cursou Letras se lembra bem da teoria de Saussure, sobre fala e língua, faces da mesma realidade, mas com conformações diferentes: a fala, mais solta, mais livre, centrada na oralidade e de caráter individual; a língua, mais comedida, por ser sistemática, e de caráter social.  Percebeu-se que existem múltiplas variantes linguísticas, que incidem diretamente no processo da comunicação. Assim é que, se alguém me diz: Os dia é curto, e eu entendo, o círculo de entendimento da comunicação se fecha, mesmo não estando a expressão ancorada na correção gramatical.

Nas escolas, os alunos trazem o conhecimento linguístico adquirido na comunidade de que fazem parte, incluindo-se as famílias, início do processo de linguagem do ser humano. E esse conhecimento não pode ser desprezad faz parte das variantes da linguagem. Compete às escolas, no entanto, mostrar aos alunos que existe uma norma culta de que eles precisarão para adentrar o universo do conhecimento, em trabalhos de pesquisa, em dissertações, em respostas a questionamentos nas várias matérias curriculares e, mais tarde, nos trabalhos universitários. Assim, os educandos precisarão ser conscientizados de que as várias situações na vida exigem diferentes formas de comunicação. Em uma conversa informal, um bate-papo entre amigos, nada de mal existe em que se empreguem expressões de gíria ou do cotidiano. Mas ministrando uma palestra, a linguagem necessita ser a formal, aquela que atende à norma culta. Da mesma forma, indo adiante, exige-se a linguagem culta em uma tese de mestrado ou doutorado, ou na elaboração de livros científicos ou didáticos.

São as múltiplas variantes linguísticas que compõem o universo da comunicação. Cada variante adequada a cada situação.

Evidentemente, cabe ao professor trabalhar o aprimoramento, quando não a aprendizagem, também na oralidade. Precisamos mostrar aos alunos que, mesmo na língua falada, há que se ter cuidado no emprego, principalmente, da concordância.

Na minha ótica, a autora extrapolou, pois a excessiva abertura proposta no livro pode dar a entender a estudantes, e mesmo a alguns professores incautos, que tudo podem em matéria de linguagem, bastando apenas o entendimento da mensagem. Se a escola não tiver o compromisso de ensinar a norma culta, de forma preponderante, perder-se-á totalmente o sentido do ensino da língua pátria.

 

(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

Blog: thuebmenezes.blogspot.com

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