Não dá para entender o que anda acontecendo com determinada parcela da população
Não dá para entender o que anda acontecendo com determinada parcela da população, principalmente a jovem: parece estar havendo uma necessidade compulsiva de destruir. Destrói-se tudo, notadamente os bens públicos ou frequentados por público mais numeroso. Não escapam as praças, os telefones, as poltronas de cinema, as dependências das escolas, as paredes recém-pintadas. Monumentos históricos servem de painéis para as pichações. Árvores e arbustos passam por processo de mutilação.
A partir daí, alastra-se o desrespeit a cidade se mostra cada vez mais suja, não, muitas vezes, por falta da limpeza dos garis, mas principalmente pela falta de educação nas vias públicas – papéis, latas, detritos, garrafas, tudo que mereceria ser jogado nas lixeiras vai para o chão, com a maior naturalidade. E muitos de nós, que viemos de um tempo em que até os papéis de balas eram guardados no bolso ou na bolsa para serem depois colocados no lixo, nós nos sentimos meio caducos, fora de moda, numa época em que parece normal agredir a limpeza.
Interessante notar que as críticas recaem sempre para o poder público, inclusive para o sistema de segurança: para muitos, apenas um processo rigoroso de repressão e punição tiraria das ruas os vândalos. Não penso assim. Não se podem atacar as causas pelas consequências. Está faltando educação, com certeza. Educação e comportamento, não apenas em casa, mas também nas ruas, nas praças, nos recintos de diversão, nas escolas, nas igrejas, em todos os lugares, enfim. O problema reside na falta de respeito àquilo que é considerado do outro ou de ninguém – nos casos de bens públicos.
Acredito que deva estar faltando, tanto nos lares, como nas escolas, aquele trabalho formativo que passe às crianças e jovens noções sobre o correto procedimento em qualquer lugar e com qualquer pessoa. Noções sobre a correspondência entre direitos e deveres: ninguém pode apenas exigir direitos; precisa também cumprir deveres.
Se tal vandalismo partisse apenas de pessoas menos aquinhoadas culturalmente, seria mais fácil entender, mas assusta constatar a grande incidência entre elementos da classe média alta.
E o pior: a partir de pequenas e aparentemente simples transgressões, fica mais fácil, como me lembrou alguém, penetrar em grupos que praticam outros tipos de transgressões mais comprometedoras, tais como rachas, drogas etc.
É necessário que as famílias e as escolas, conjuntamente, promovam atividades que despertem, nas crianças e nos jovens, valores hoje tão esquecidos, fornecendo-lhes conceitos sobre os limites que devem nortear os seres humanos, por meio do discernimento sobre aquilo que pode ou não ser praticado, de acordo com os próprios interesses e o interesse dos outros ou da sociedade; que os oriente sobre os verdadeiros caminhos da liberdade, que jamais pode ser irresponsável.
Se a família e a escola, juntas, se propuserem um trabalho sério para a recuperação ou aquisição de valores, em ação com crianças e jovens, proporcionalmente haverá mudança para melhor, na maneira de ser e agir da infância e da juventude.
(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro