Por se tratar de um problema com causas distintas, que muitas vezes atuam conjuntamente na geração da dor
Por se tratar de um problema com causas distintas, que muitas vezes atuam conjuntamente na geração da dor, seu diagnóstico também constitui uma tarefa complexa. Nem sempre a evidência clínica de uma lesão significa que esta cause dor, da mesma forma que a não evidência de uma lesão não significa que a dor seja de origem psicológica. Seu diagnóstico deve ser feito por um médico especializado, mas também requer a ajuda do doente, como já abordado nas colunas anteriores.
Além das metodologias de avaliação da intensidade da dor, que envolvem escalas validades internacionalmente, existem meios complementares de diagnóstico que permitem identificar possíveis causas da dor, como exames radiológicos, electrofisiológicos e laboratoriais.
Uma dessas metodologia merece destaque, por ser bastante eficiente no diagnóstico diferencial da dor: o bloqueio anestésico. A palavra “anestesia” tem origem grega e significa “sem sensibilidade”; representa o estado de total ausência de dor durante uma operação, exame ou curativo. A anestesia local é amplamente usada em operações simples, que envolvem pequenas áreas, como algumas cirurgias plásticas, aplicações locais ou para suturar cortes (dar pontos). No entanto, ela pode também ser usada para diagnosticar a dor e identificar sua localização, auxiliando na busca das possíveis causas.
Mas como isso é possível? A anestesia local torna insensível pequenas áreas em qualquer parte do corpo. Durante os bloqueios anestésicos mais comuns, a agulha empregada na aplicação não atinge o nervo propriamente dito, mas sim as terminações nervosas dos tecidos, onde o anestésico interrompe a via sensitiva que leva a informação ao sistema nervoso central. Por esse motivo, se uma dor sentida constantemente pelo paciente desaparece após a aplicação, isso permite definir sua localização e facilita o entendimento de sua origem, orientando ao tipo de tratamento mais adequado.
Bloqueios anestésicos normalmente podem ser guiados por ultrassom, principalmente quando se trata de dor de origem muscular, tendínea, calcificações, bursites e patologias articulares específicas como osteoartrose com osteófitos que comprimem ligamentos e nervos. O uso do Ultrassom nos permite uma maior acurácia, com precisão milimétrica, que requer habilidade e familiaridade técnicas do profissional que se propõe a realizar esse tipo de teste, assim como seus conhecimentos sobre a patologia dolorosa. Durante o procedimento, são realizados testes que podem envolver a aplicação de anestésico em diferentes pontos, para definição dos locais exatos de dor. A duração de um bloqueio anestésico depende do tipo e da quantidade de anestésico empregado, e normalmente dura somente o tempo necessário para que seja realizada a avaliação. Atualmente, acidentes anestésicos são raros e estão mais associados a cirurgias e operações mais invasivas, que requerem grande quantidade de anestésicos de profunda ação sistêmica.
Essa técnica pode ser empregada não só no diagnóstico, mas também no prognóstico e tratamento da dor. Enquanto método terapêutico, pode estar associada ao uso de medicamentos e a métodos físicos, como a fisioterapia, a hidroterapia, a reeducação postural global (RPG) e o Pilates, quando passa a ter o objetivo principal de aliviar a dor, ampliar a capacidade funcional e melhorar a qualidade de vida do paciente.
Referências
Braun L, Braun L. Técnicas intervencionistas no tratamento da dor. Cienc Cult. 2011 Apr; 63(2).
Danielli L, Bianchini N, Sakae TM, et al. Avaliação da dor em pacientes com lombalgias/lombociatalgias submetidos a bloqueio peridural lombar com corticosteróides. Arquivos Catarinenses de Medicina. 2009;38(4):96-101.
FerraroI LHC, Tardelli MA, Yamashita AM, et al. Bloqueio dos nervos femoral e isquiático guiados por ultrassom em paciente anticoagulado. Relato de casos. Rev Bras Anestesiol. 2010 Ago; 60(4).