Por mais complicada que seja a vida do ser humano, por mais percalços que ele encontre em sua caminhada, por mais tropeços que lhe toldem os passos
Por mais complicada que seja a vida do ser humano, por mais percalços que ele encontre em sua caminhada, por mais tropeços que lhe toldem os passos, ainda assim não poderá perder sua capacidade de luta, na persecução daquilo em que acredita.
Todos precisamos vislumbrar, à nossa frente, a claridade que nos sirva de suporte aos nossos sonhos, sejam eles inerentes a este plano terreno, ou àquele que acreditamos continuação melhorada do primeiro.
Mário Quintana teceu os seguintes versos: "Se as coisas são inatingíveis...ora!/ Não é motivo para não querê-las.../ Que tristes os caminhos, se não fora/ A presença distante das estrelas!"
E Manuel Bandeira: "Vi uma estrela tão alta/ Vi uma estrela tão fria/ Vi uma estrela luzindo/ Na minha vida vazia."
Todo ser humano precisa da luz de uma estrela, próxima ou distante. Uma luz em forma de esperança. Esperar o amanhã, após uma noite que parece não ter fim. Esperar o som da solidão, quando a alma anseia por silêncio interior. Esperar o alarido dos pássaros, quando o coração necessita sentir-se integrado à natureza. Esperar o reencontro, quando abismos separam duas almas. Esperar a esperança, quando as garras da descrença tentam arrancá-la do recôndito daquele que luta para sobreviver.
O universo interior do ser humano muitas vezes se compõe de um emaranhado de utopias: ele sonha sonhos impossíveis. Move-o uma luz lá longe, onde apenas os olhos da alma alcançam. Apenas os olhos da alma... Na verdade, à maneira da nossa sombra, no caminho, ao sol, correndo de nós quando corremos atrás dela, são certas esperanças acalentadas no coração. E a luz, aparentemente próxima, recua, distanciando-se quanto mais a perseguimos.
Talvez a esperança seja iss a habitação do sonho e, muitas vezes, da utopia. O poeta insiste: "Que tristes os caminhos, se não fora/ A presença distante das estrelas."
Precisamos caminhar. Precisamos seguir adiante. Há que haver uma luz que, à maneira de um ímã gigante, nos arraste do círculo vicioso em que, muitas vezes, nos emaranhamos, sem forças suficientes para vencer as barreiras que nos aprisionam.
Avanço na leitura do poema de Manuel Bandeira: "Por que da sua distância/ Para a minha companhia/ Não baixava aquela estrela?/ Por que tão alta luzia?/ E ouvi-a na sombra funda/ Responder que assim fazia/ Para dar uma esperança/ Mais triste ao fim do meu dia."
Constato que existem níveis de esperança: esperança mais flagrante e esplendorosa, esperança acomodada, esperança tênue, esperança silenciosa; umas, mais alegres e alardeadas, outras, tristes e combalidas, algumas, como a do poeta, mais tristes, ainda, quando situadas no anoitecer da existência.
O universo interior do ser humano, dentro de seu emaranhado de utopias, muitas vezes vê a estrela distante querer desmanchar-se em escuridã nesses momentos, necessita, com coragem, soprar, ainda que frágil, a luz da esperança para que, alimentando-a sempre, não a veja sucumbir.
(*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro
thuebmenezes@hotmail.com