No meio do caminho tinha uma pedra
“No meio do caminho tinha uma pedra / Tinha uma pedra no meio do caminho / Tinha uma pedra / No meio do caminho tinha uma pedra.// Nunca me esquecerei desse acontecimento / Na vida de minhas retinas tão fatigadas./ Nunca me esquecerei que no meio do caminho /
Tinha uma pedra / Tinha uma pedra no meio do caminho / No meio do caminho tinha uma pedra. (Poema: No meio do caminho)
É interessante quando vemos a insistência de Carlos Drummond de Andrade, repetindo a palavra pedra em seu famoso e polêmico poema.
Quem, entre os mortais, não possui uma pedra no meio de seu caminho? Ou várias pedras?
Façam uma análise interior, amiga e amigo que me leem agora. Perscrutem o mais íntimo do ser e coloquem à mostra, para si mesmos, o/os empecilhos que lhes atravancam a vida.
A metáfora drummoniana é verdadeira. A pedra ou pedras no caminho de cada um não se dissolvem facilmente. Não se afastam facilmente. Persistem, como a persistência no poema.
Há momentos em que a pedra, em átimos de segundos, nos dão a impressão de desaparecer. E eis que ressurge ainda mais forte e pesada. Impossível de ser removida. Aí vem o desânimo. O medo de nada mais conseguir. A desesperança que teima em incorporar-se à pedra que não se afasta. Pesada e persistente.
Muitos, talvez, falem da solidão, ou da saudade ferrenha e cruel. Ou do amor que se foi, de forma inesperada e triste. Talvez do desânimo de enfrentar as vicissitudes. Ainda do filho que se perdeu nas veredas da existência, em meio ao mar das drogas. Ou do desemprego que atemoriza famílias. E, para alguns, o medo interior que devora vidas e ressuscita fantasmas. Em cada um, pedras de tamanhos e formas variáveis. Mais pesadas ou mais leves. Mais fáceis de ser contornadas ou instransponíveis.
...uma pedra no meio do caminho. Como reconhecê-la realmente como pedra? E, em a reconhecendo, como lidar com ela? Passar o resto dos dias tentando removê-la, em tarefa árdua e exaustiva, consumindo preciosos momentos da existência, os quais poderiam ser ocupados em atividades enriquecedoras e prazerosas? Sofrer, ininterruptamente, com tal atitude? Ou seria melhor tentar contorná-la, sabendo-a presente todo o tempo, talvez, sem ter voz nem feições, aparentando em sua aparência grotesca um ar de superioridade ou deboche, mas mesmo assim contorná-la? Ou ainda ignorá-la, num trabalho de olvidamento, como se não existisse, ou se, existindo, não interferisse na linha do pensamento e da existência de cada um?
A vida é feita de opções: a cada um cabe decidir como melhor lidar com a pedra ou pedras de seu caminho. E, na opção, procurar sofrer menos em face dos embates/entraves da existência.
Amigo/amiga: qual a pedra de seu caminho?
(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro