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Um Samu visto por dentro

Vera Lúcia Dias
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 17/12/2022 às 04:21
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Você já se imaginou em um trabalho, no qual, rotineiramente, você nunca sabe com que tipo de situação irá lidar no momento seguinte? E nem se irá conseguir terminar a refeição iniciada sem interrompê-la? E viver em constante estado de alerta, esperando o chamado de uma campainha ou o anúncio de que é a vez de sua equipe socorrer um acidentado, uma parturiente, um doente mental, uma vítima de acidente, ou a uma tentativa de homicídio ou auto-extermínio? E conviver com a morte todos os dias?

Difícil compreender o funcionamento de um SAMU, para quem nunca viveu a rotina de  um serviço com funcionamento de vinte e quatro horas, trezentos e sessenta e cinco dias por ano, e onde tudo tem que acontecer em caráter de  urgência e emergência.

Instalado em Uberaba desde julho do ano passado, nosso serviço é elogiado por alguns e criticado por outros. Elogiado por aqueles que tiveram sua vida ou a de um ente querido salva com presteza e competência. Criticado por aqueles que não puderam ser atendidos por não terem demanda específica de SAMU,  por terem que responder às perguntas protocolares feitas segundo orientação do Ministério de Saúde. Outros, ainda, porque não puderam ser  atendidos em menor espaço de tempo...

O fato é que temos dificuldades em aceitar e compreender o novo. Acostumados que somos a contar durante décadas com ambulâncias que  fazem transporte social e com o serviço do Corpo de Bombeiros, que realiza trabalho similar, mas diferente  na sua concepção, acreditamos que  o salvamento de uma vítima consiste em retirá-la, adequadamente, do local e levá-la ao hospital mais próximo.

E é aí que reside a diferença entre COBOM e SAMU. Embora ambos possam atuar num mesmo tipo de contexto e, às vezes, até em conjunto, o segundo conta com profissionais e equipamentos para realizar procedimentos antes restritos a hospitais, por poder contar com ambulâncias equipadas para tal, inclusive uma UTI móvel para os casos mais graves.

Sinto-me orgulhosa por poder oferecer apoio psicológico a essa equipe que realizou, em menos de um ano e meio, aproximadamente oitenta mil atendimentos, enfrentando muitas vezes incompreensões, maus-tratos, ameaças e agressões verbais ou físicas.

Que durante a noite de Natal e demais festas de final do ano você consiga, no aconchego de seu  lar, lembrar-se e fazer uma prece por todos estes heróis anônimos que, por dever profissional, estarão a postos em algum lugar, zelando por nossas vidas e por nossa segurança.

 

(*) psicóloga (atualmente prestando apoio psicológico aos servidores do SAMU de Uberaba)

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