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Um minuto de atenção, por favor!!!

Enquanto espero atendimento na fila do banco

Danilo Lima
Publicado em 17/08/2014 às 14:03Atualizado em 19/12/2022 às 06:24
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Enquanto espero atendimento na fila do banco, noto ao lado uma perna aflita, sacudindo quase sem parar. Era um sapato vermelho, de bico fino, toc-toc a todo instante. De repente escuto alg “Será que eu ligo?”.

A atendente chama o próximo, não era eu nem a dona do sapato vermelho. Esperamos nós dois mais um pouco, cada um com a sua afliçã eu querendo conversar sobre taxas com o gerente e ela na sua indecisão aparentemente sentimental.

De repente a moça olha para o celular, como se tivesse contando os minutos, digita alguns números e diz com a voz quase embargada: “Nossa, você não me liga mesmo, né?”. Foi impossível não ouvir aquele desabafo. Ficamos mudos naquele instante, a pessoa do outro lado da linha e eu. Ela prossegue: “Escutou o que eu te disse, Rogério?” Olhei mais uma vez pro sapato, que naquele instante aumentara o ritmo dos toc-toc dos últimos 30 minutos.

A aflição daquela moça por atenção me fez pensar, além das taxas bancárias, naquele instante. Será que damos atenção suficiente às pessoas, geramos muitas expectativas e nos doamos pouco? Ou, ainda, o que as pessoas realmente esperam de nós?

Alguém já me disse que quanto mais expectativas fossem criadas, mais as chances de decepções aumentariam, uma daquelas frases que na hora a gente nem dá muita atenção. Algo razoável, desde que não sejamos nós os atingidos por um instante de carência.

Fui pesquisar a respeito e, de acordo com uma recente pesquisa encomendada pela Johnson & Johnson ao Ibope, boa parcela da população brasileira se sente carente. Enquanto 35% afirmaram que receberam muito carinho em suas vidas, 28% declararam não ter recebido. Já 21% dos brasileiros disseram não ter manifestado carinho a ninguém. Pense um pouc você se incluiria em qual resposta?

Diante de tal resposta, chegamos à conclusão de que aquela máxima “as pessoas não podem dar o que não receberam” é realmente verdadeira e que cabe a nós a dosimetria de nossos sentimentos. Sem aquela punição sentimental de quando as coisas não dão certo ou quando não saem do jeito que esperávamos. Complicado pensar em quem ou se realmente devemos “depositar” nossos sentimentos e expectativas, até porque no caixa eletrônico sentimental ainda não temos essa opção. Por enquanto ainda é um investimento de alto risco, com tendência a calote.

Passei 30 longos minutos pensando nisto e, assim como na vida, a fila à minha frente andou. Vou pensar novamente em como convencer o meu gerente sobre taxas bancárias.

(*) Assessor de imprensa

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