ARTICULISTAS

Uberaba minha

Tenho saudade de ti, Uberaba minha, quando olho para trás

Terezinha Hueb de Menezes
thuebmenezes@hotmail.com
Publicado em 04/03/2012 às 13:31Atualizado em 17/12/2022 às 08:43
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Tenho saudade de ti, Uberaba minha, quando olho para trás e te vejo incrustada em minha memória, retornada à infância e à adolescência.

O Córrego das Lajes corta o centro da cidade e as muretas de proteção, enfeitando o local, servem de encosto para os estudantes que aproveitam a saída das escolas para percorrer a avenida. Suas águas, hoje submersas, devem chorar o tempo em que acompanhar seu percurso constituía descanso para a alma.

Vislumbro, na lembrança, o Cine Metrópole e suas sessões de matinée dominicais, os olhos divertindo-se, vendo moças e rapazes dançando no saguão, música ao vivo, antes do filme. Vislumbro a imponência do Cine Teatro São Luiz. Conhecendo a trajetória histórica para a concretização de ambos os projetos, dói perceber que o que foi deixa de ser, em mudança ininteligível para nós.

Meus olhos percorrem a rua Artur Machado, quando os rapazes, em fileira lateral na própria rua, esperavam as jovens passar, num ir e vir interminável, tendo por local de descanso a sorveteria Linde, com seus sorvetes sofisticados e saborosos.

Busco o contorno de enormes casas, trazendo ainda o eco da alegria de crianças, hoje transformadas, sem vida, em pontos comerciais, preservando, ainda, como centro de lembranças, uma ou outra árvore que teima em simbolizar o passado.

Vejo-me na praça Rui Barbosa, em quermesse pelo Abrigo de Menores, na qual despontou o inesquecível amor de minha vida, ambos, Murilo e eu, antevendo a existência que teríamos, a vida encaminhada para a família e para a educação. Na lembrança, o tempo permanece intato, como se nossa jovem alegria ainda perdurasse dentro de nós.

Avanço na rua Artur Machad a imensa gameleira dos nossos primeiros habitantes faz vicejar a esperança irradiada de suas ramagens, forçando-nos a nos lembrar de fatos ocorridos sob sua proteção, no desfile de personagens históricas de nossa Uberaba. Dentro de nós, ela permanece. (Em 24 de agosto de 2010, em reunião da ALTM na Livraria Alternativa, engrossando a opinião de muitos uberabenses apaixonados por sua história, sugeri também a presença da gameleira na praça que ainda é sua).

Na lembrança, figuras exóticas que povoaram minha imaginação – Maria Boneca, Coronel Delcides, Laudelina, São Bento – fazem retornar histórias insólitas de motivos que os conduziram a mundos diferentes dos nossos, com seus heróis e suas decepções.

Uberaba e suas igrejas, Uberaba e seus folguedos nas ruas, Uberaba e suas praças acolhendo os passantes, Uberaba e suas casas, portões sempre abertos, violência quase nenhuma, Uberaba de um tempo que se foi, levando consigo a singeleza no estilo de tantas vidas que não precisavam ver igrejas rodeadas de grade, muralhas protegendo as casas, câmeras vigiando as ruas e os portões, medo de rostos que se escondem atrás de capacetes de motociclistas.

Uberaba com escolas e seus grandes portões, horário de saída, meninada tomando conta das ruas, quais pássaros com seu alarido, ninguém precisando buscar, cada qual dirigindo-se às suas casas, sem a preocupação dos dias de hoje.

Neste teu aniversário, tenho saudade de ti, Uberaba minha, quando olho para trás e te vejo incrustada em minha memória, retornada à infância e à adolescência. Quanta saudade!

(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro. thuebmenezes@hotmail.com

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