Estamos no mundo. Somos no mundo. Por inúmeras vezes, questionamos nossos papéis
Estamos no mundo. Somos no mundo. Por inúmeras vezes, questionamos nossos papéis e se os estamos desempenhando a contento.
A vida é extremamente curta. Nascemos, crescemos, labutamos, cada qual em sua atividade, lutamos aguerridamente para conquistar e preservar nossos sonhos transformados realidade. Não queremos nem aceitamos ver esgarçar-se a fusão de almas que se amam. Não entendemos que o tropeção na calçada, ao invés de provocar um impulso para a frente, nos force a desanimar, joelhos no chão como a implorar a Deus coragem para prosseguir.
A vida é extremamente curta. Tentamos conquistá-la alucinadamente, sem entender bem seus limites, seus apelos, sua consistência ou sua pusilanimidade. Não conseguimos captar nosso rodopio no tropel da existência, nossos anseios, ditando-nos ordens que buscamos ignorar, nossos passos querendo interromper a caminhada, como se espinhos, apunhalando os pés, tentassem plantá-los para que, imóveis, virassem raízes.
A vida é extremamente curta. Quando nos damos conta, o tempo se foi, a realidade parece ter voltado à condição de sonho que não mais queremos transformar em outra realidade. Quando nos damos conta, percebemos haverem sumido, como sinais na areia, as marcas da trilha percorrida, sem que saibamos o rumo cert caminhamos para a frente ou para trás? Avançamos ou retrocedemos no longo percurso? Ou estagnamos porque queremos estagnar, novamente os pés tentando firmar raízes, agora onde os espinhos não os alcancem, nem se ouçam vozes apontando caminhos?
A vida é extremamente curta. Olhando para trás, pesa-nos no alforje roto da rota jornada o que deixou de ser feito, o que se abandonou pelas metades, o grito que deixou de ecoar nas grimpas da existência, os talentos enterrados, quando poderiam produzir.
Mas a vida pode apresentar-se ainda mais curta, quando, como com a Carolina de Chico Buarque, percebemos que “o tempo passou na janela” e não o vimos passar: nem na janela dos olhos, nem na janela da alma, muito menos ainda na janela da própria vida.
(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro