ARTICULISTAS

Travessia

A vida é mesmo uma travessia: assim deixou claro Guimarães Rosa. E não há como negar. Há o ponto de partida. Há o ponto de chegada. No entremeio, o percurso. A caminhada...

Terezinha Hueb de Menezes
thuebmenezes@hotmail.com
Publicado em 19/02/2012 às 08:44Atualizado em 17/12/2022 às 08:27
Compartilhar

A vida é mesmo uma travessia: assim deixou claro Guimarães Rosa. E não há como negar. Há o ponto de partida. Há o ponto de chegada. No entremeio, o percurso. A caminhada.

Cada um de nós, viajor. Às vezes sozinhos, outras acompanhados. Mas cada qual responsável por suas decisões. Ou opções de vida. Sofrendo, porém, interferências de toda ordem. Ninguém está totalmente livre para assumir seu destino. Aqui e ali, as pedras da estrada obrigam a tomar outros rumos. Mais adiante, o rio, com suas águas caudalosas, interrompe o percurso. E é preciso voltar atrás. Refazer as forças. E reiniciar a trajetória.

No reinício, a paisagem já não é a mesma. A ramagem verde e florida, muitas vezes, cede lugar à sequidão do inverno que acabou de passar. E urge esperar. Dar um tempo para que a primavera torne a iluminar as folhagens com suas flores coloridas.

Como as estações, assim a vida. Alternando-se em mudanças. Quando a estação aquece a alma, esta se apega a seus encantos, rejeitando a ideia de abandoná-la. Quando a estação se enche de secura, e ventania, e temporais, a alma busca acreditar, nos sonhos, que o tempo agradável não passou, e os olhos buscam, incessantemente, sentir os matizes das flores, a alma tentando inebriar-se no perfume que não mais existe.

A travessia se faz de recomeços. Mas os recomeços jamais se repetem. Cada investida, conduzindo a percepções diferentes. Como a água do mesmo rio a que se referiu o filósofo. Jamais a mesma, ainda que a tomemos no mesmo ponto da margem. Jamais a mesma. O devir da existência garante as mutações.

E vamos caminhando. Entremeando forças e fragilidades. Às vezes transformados em leões, prontos a enfrentar os perigos inesperados da selva em que, em muitos momentos, se transforma a vida. Outras vezes, transformados em frágeis animaizinhos, temendo a sanha de pés gigantescos que teimam em esmagá-los, em sanha de voracidade e selvageria.

Travessia. Estradas que se cruzam, vielas que comprimem o cansado caminheiro, rochedos impossíveis de ser removidos. É preciso contorná-los. Aprender a conviver com eles. Mas tendo-os à frente sempre. Como uma sombra que não se dilui, ainda que o clarão de vários sóis teime em dissolvê-la.

Travessia. Caminhar em frente. Mirando o horizonte. O olhar de Deus tudo vendo. Tudo vigiando. E Sua mão divina conduzindo os passos. Travessia.

Assuntos Relacionados
Compartilhar

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por