Amália não dormia, transubstanciou-se em notívaga a vagar pelos lugares a procura de quem pudesse ouvi-la, ou de amigos. Quando os encontrava se assustava pela indiferença à sua presença
Amália não dormia, transubstanciou-se em notívaga a vagar pelos lugares a procura de quem pudesse ouvi-la, ou de amigos. Quando os encontrava se assustava pela indiferença à sua presença. Conquanto assentou-se num canto a espera de ser atendida, talvez devido ao avançar das horas, gritava e o garçom permanecia indiferente ao seu chamado. Andou de um lado pro outro, até que o dia amanheceu.
Evódio acordou com o corpo leve, seus sonhos foram lampejos de recordações afins. Ao tomar o banho matutino lembrou de alguns fleches da noite sonhada. Ao escolher uma camisa, após o banho, vestiu outra. Ao olhá-la lembrou-se da amada que havia lhe presenteado em dia especial. Sintonizou-se nela. As recordações assaltaram-no de melancolia saudosa, onde os sorrisos de lembranças se escondem nas reminiscências pretéritas. O dia fluiu, e as lembranças avolumaram-se em contornos do presente, e quanto mais pensava, às vezes um calafrio lhe cortava a espinha dorsal, outra vez seu corpo arrepiava, seguido de uma sensação de que alguém o acompanhava, os seus bocejos quase deslocavam o seu maxilar.
Amália, mesmo sem dormir, o dia lhe parecia não diferente da noite, tomou seu café da manhã, revirou seu guarda roupa, remexeu as gavetas e encontrou a roupa apropriada para aquele dia. Decidiu procurar Evódio, e reatar o relacionamento desatado por causas banais, já que ela mesma não sabia do porquê da separação. Quis fazer uma surpresa ao ex-namorado, portanto, foi ao local onde tinham o costume de almoçar. Sentou-se, aguardou a sua chegada. Antes, porém, tomou o cuidado de se posicionar de forma estratégica, que lhe permitisse uma visão de sua chegada ao self-service.
Evódio mesmo sem fome dirigiu-se ao restaurante de costume e ao entrar sentiu calafrios pelo corpo e uma nuvem de sentimentos o envolveu, dando-lhe uma sensação de que os seus movimentos estavam sob comando de outrem. Os seus olhos lagrimejaram, seus sentidos dilataram, as percepções nebulosas se materializaram. Saiu do self-service para respirar... Amália foi atrás e, disse: Evódio, não consigo esquecê-lo, nossos momentos estão presentes em meu coração, em minha alma. Talvez fosse interessante o nosso reatamento. Mas a propósito, interrogou; você ainda gosta de mim? Evódio caminhou lentamente, o seu coração queria explodir em lágrimas saudosas por Amália. Mulher que lhe ensinará a ser silencioso, observador, que nutriu os seus sentimentos de afeto, de compreensão...
Com tantas saudades Evódio parou sob uma árvore frondosa, elevou os seus pensamentos pedindo proteção espiritual à sua amada, que havia falecido em acidente de carro. Amália ao ouvir a oração saindo do fundo do coração de Evódio e se repercutindo através dos fluidos universais, foi arrebatada pelas falanges espirituais e conduzida à vida espiritual.
(*) professor