Muitas vezes pensamos que histórias ou casos que ouvimos contar só ocorrem na ficção. Na verdade, não é bem assim: basta conversar com pessoas
Muitas vezes pensamos que histórias ou casos que ouvimos contar só ocorrem na ficção.
Na verdade, não é bem assim: basta conversar com pessoas à nossa volta para conhecermos a trajetória de vida de cada um.
Muitos são os casos de homens e mulheres oriundos de situação de pobreza, de trabalho árduo durante o dia e estudo à noite, grande parte deles arrimos de família. Há trajetórias de profundo sofrimento, com madrugadas frias obrigando a sair da cama para o trabalho muitas vezes hostil.
Já ouvi relatos de profissionais bem sucedidos que relembram, com certo ar de melancolia, a infância roubada pelo trabalho, a adolescência tolhida dos encantamentos primaveris, o início da idade adulta martelada pelo serviço exaustivo e ininterrupto.
Era preciso vencer. E onde não há facilidade de vida, o ser humano conta com os próprios braços, com a própria energia, a qualquer cust em situações assim, não é permitido fraquejar; não é permitido queixar-se ou esbravejar contra a terra e o céu. É preciso, sim, seguir adiante, vendo, lá longe, um lampejo de esperança para aqueles que têm coragem de enfrentar as vicissitudes, para aqueles que conseguem, mesmo nas limitações de facilidades, caminhar em direção aos ideais. A esses, é proibido esmorecer, desanimar, ainda que as forças pareçam lassas e quebradiças.
Lembro-me do caso de um ex-alun estudioso, disciplinado, educado, trabalhando em grande empresa, durante o dia, e cursando o ensino médio à noite: era arrimo de família. Na terceira série, surgiu um impasse: ele teria que alterar turnos – o trabalho, em uns dias da semana, seria pela manhã e, em outros, durante a noite toda. Sua história de vida, seu esforço, a vontade de vencer comoveram o diretor de então, Murilo Pacheco de Menezes – meu inesquecível esposo – que tomou a seguinte decisão (inusitada para a época): o aluno frequentaria aulas pela manhã, quando estivesse trabalhando à noite, e no turno noturno, quando trabalhasse de dia. E o rapaz conseguiu vencer a difícil etapa - até hoje nem sei como, tão novo e tão responsável: creio que o peso de se sentir arrimo de família lhe deu forças para vencer. Concluído o curso, enveredou-se para outros caminhos de sucesso nos estudos e no trabalho. Foi um vencedor.
Como ele, há milhares de pessoas cuja trajetória de vida se apoia na luta pela sobrevivência, chegando a atingir patamares de sucesso, baseados em peleja quantas vezes solitária: muitos contam consigo mesmos e com Deus.
E o mais bonito em muitas dessas histórias: vencidos os obstáculos, alterada para melhor a situação na vida, aqueles que cavaram sua trajetória no sacrifício e na luta, escorados em princípios morais e na seara do bem, com certeza continuarão vendo nos menos aquinhoados materialmente a própria imagem dos tempos difíceis. E terão atitudes humanas e cristãs: não se deixarão perder nos descaminhos da ambição, da avareza e da arrogância.
(*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro