Tragédia anunciada

Os acontecimentos que envolvem o goleiro Bruno, do Flamengo, o time de maior torcida do Brasil, são uma tragédia anunciada desde a origem dos principais envolvidos: o próprio Bruno e Eliza, a vítima.

A mãe de Bruno o abandonou quando ele era criança e esteve envolvida em uma tentativa de homicídio em Roraima, em 1996. Quando criança, Bruno foi abandonado pelo pai e por isso foi criado pela avó paterna.

Quando Eliza era pequena, a mãe a abandonou; agora obteve a guarda provisória do neto, filho de Eliza. O pai de Eliza, que a criou, foi condenado a oito anos de prisão no Paraná por estuprar outra filha, que na época tinha 10 anos de idade.

Colhendo essas informações publicadas pelas inúmeras reportagens veiculadas pela mídia, é possível afirmar que os dois principais personagens da terrível trama não tiveram a sorte de um convívio salutar em família.

E o sustentáculo da sociedade é a família. É ela que, em primeira instância, nos garante educação, afeto, carinho, proteção, formação de caráter, religiosidade e respeito aos valores éticos e morais.

Mais fatores concorreram para que os fatos se desenrolassem. Um deles, sem dúvida, é a quantia vultosa que Bruno recebe como jogador de futebol. Muito dinheiro pode acabar por descontrolar a cabeça de quem não está preparado para lidar com ele. Também a fama do jogador, da qual ele tinha consciência, pode ter sido decisiva para a tragédia: Eliza pode ter se aproximado dele querendo levar vantagem.

E por que as notícias da gravidez de Eliza e do nascimento do filho, já reconhecido pelo goleiro, foram parar nos jornais? Uma reportagem da revista IstoÉ (n° 2121) informa que a dentista Ingrid Calheiros, provável pivô de tudo, teria motivado Eliza a revelar a gravidez. Ingrid é também namorada de Bruno. Por enquanto a dentista, possível responsável por todos os acontecimentos, está fora do noticiário geral. A reportagem lavrou um tento, embora não deixe claro se a intenção da dentista era ficar livre da concorrente ou ajudar Eliza a receber uma ajuda do craque.

Para piorar o quadro, dificilmente o corpo de vítima será encontrado, pois pode ter sido devorado por cães. Mas a história, com todos os seus horrores, deverá ser esclarecida pela polícia. O melhor escritor de romances policiais talvez não imaginasse trama tão cruenta.

Que os fatos alertem os times de futebol para desenvolverem um trabalho de orientação ao jogador, quanto à conduta dele perante a sociedade, em especial em família e quanto à administração dos próprios bens, uma vez que o jogador é ídolo para muitas crianças, jovens e torcedores adultos. Um trabalho como esse poderia contribuir para que se evitassem casos como o de Bruno. Os clubes investem milhões nos seus jogadores, mas não os veem em sua totalidade, por isso não têm o retorno que poderiam esperar. Investir no lado social e pessoal de um jogador é resguardar o patrimônio do clube; é valorizar a sociedade; é valorizar o homem por inteiro.

(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro