ARTICULISTAS

Terra seca

Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, é uma das músicas mais bonitas

Mário Salvador
Publicado em 21/10/2014 às 20:27Atualizado em 17/12/2022 às 03:08
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Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, é uma das músicas mais bonitas do Brasil de todos os tempos. E com a seca castigando nossa região, apreciamos ainda mais a força e a beleza dos seus versos.

O calor do Nordeste, na letra da música, é comparado a uma fogueira de São Joã “Quando olhei a terra ardendo / Qual fogueira de São João,/ Eu perguntei a Deus do Céu:/ Por que tamanha judiação?” Esse braseiro ou fornalha – metáforas empregadas na música – é cruel para a vida: nenhuma plantação resiste; os animais morrem e o homem se vê longe da amada, pois precisa buscar uma terra capaz de garantir a sobrevivência.  E a última esperança de chuva se vai com este voo da pombinha Asa Branca: “Inté mesmo a Asa Branca/ Bateu asas do sertão./ Então eu disse: Adeus, Rosinha,/ Guarda contigo meu coração.”

O nordestino é homem forte, que luta contra a dor da perda, da separação e da adversidade. Tem fome de trabalho, sede de vida e esperança de voltar para o sertão e encontrar a terra tão verde quanto os olhos da amada: “Quando o verde dos teus olhos/ Se espalhar na plantação,/ Eu te assegur Não chore não, viu, /que eu voltarei, viu, /meu coração.”

Outra letra contundente é a de Promessa, de Custódio Mesquita e Evaldo Rui: “Senhor do Bonfim, o seu filho plantou,/ Mas o sol insistente no céu toda terra secou./ Pedi pra chover, pro verde voltar/ E até hoje ainda estou esperando essa chuva chegar./ (...) O meu gado está morrendo,/ O meu povo chorando,/ O meu campo torrando./ O Senhor me esqueceu./ Andou chuviscando, andou peneirando,/ Chover não choveu.”

Em ambas as músicas, nossos exímios poetas souberam mostrar as agruras da seca e o sofrimento do nordestino. A situação daquele povo ainda é a mesma. Pouca coisa mudou.

Antes, em nosso país, só o nordestino precisava encarar a seca e a escassez de água; agora, também nós. E a situação tende a se repetir nos próximos anos. A população mundial cresceu e, com ela, o consumo de água. Pior: o desperdício dela. 

A humanidade parece ter perdido a noção de quão valioso é esse líquido. Sem ele, não há plantações, safras se perdem, não se criam animais, não há alimento, não há vida. Se não houver uma mudança radical e urgente na maneira de o homem agir em relação à água, nossa geração terá deliberadamente arruinado o planeta. Por isso essa mudança precisa ser encarada como prioridade por todos os setores da vida contemporânea. Já passou da hora de começarmos a agir. Estamos atrasados.

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