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TEORIA E PRÁTICA

Na teoria, Uberaba é uma verdadeira “mina” de craques de futebol. Na prática, nem tanto. Talvez porque me acostumei a ver, no passado, vários jogadores revelados por Uberaba e Nacional saírem para...

Moura Miranda
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 13:03
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Na teoria, Uberaba é uma verdadeira “mina” de craques de futebol. Na prática, nem tanto. Talvez porque me acostumei a ver, no passado, vários jogadores revelados por Uberaba e Nacional saírem para vestir a camisa de grandes clubes do futebol brasileiro. Ultimamente ando meio pessimista, acreditando que a nossa antiga mina secou, pois não vejo nenhuma revelação de nossa cidade disputando uma competição importante, por um time de ponta. Até o Eder Luiz, que na sua carteira de identidade é natural de Uberaba, quando lhe perguntam responde: “sou de Almeida Campos, município de Nova Ponte”. Todos os dias ouço e leio nos noticiários esportivos, que observadores de grandes clubes estão na cidade, buscando garotos das nossas equipes de base, muitos deles ainda nas primeiras divisões das muitas escolinhas existentes em Uberaba. Acompanho também que grupos de empresários estão procurando parcerias com nossos clubes amadores e profissionais. Porém, eles têm o objetivo de descobrir talentos, para com eles auferirem lucros que podem chegar a milhões de reais, dólares ou euros, não estão interessados em abastecer nossos times. Ao contrário de antigamente, ninguém pensa nos clubes, nos times daqui. Se ainda têm alguns que assim pensam, são tão poucos e a concorrência é tão grande que eles passam quase despercebidos.   Fico pensand se esta prática de levar garotos bons de bola de Uberaba já existe há tantos anos, e centenas dessas promessas já atravessaram a ponte do rio Grande para buscar o sucesso lá fora, onde elas estão? Quando cheguei à Uberaba, lá pelos idos de 1974, as nossas equipes, o Uberaba e o Nacional, eram grandes reveladoras de jogadores. Revelavam nas suas equipes de base, as promoviam para os times principais, e só depois elas eram negociadas com outros clubes. Vários deles de primeira linha. Por exemplo, do time do Uberaba de 1973, que tanto sucesso fez no Campeonato Mineiro, vários foram para grandes clubes. Modesto foi para o Atlético; Toinzinho esteve no Cruzeiro e depois foi para o Santos e outros saíram para clubes de menor porte. Lembro-me bem do jovem time do Nacional daquela época. Ernane e Marquinhos saíram de JK e foram para Boulancer Pucci, depois para outros clubes, sendo que o zagueiro jogou no Cruzeiro e no Palmeiras. Pedrinho Zandonaide e Rubão foram para o Vasco e de lá para o exterior. E assim aconteceram nos anos seguintes. De nossas equipes profissionais saíram para os grandes clubes, craques como Vandinho, Paulo Luciano, Luiz Carlos, Tépa, Givaldo, Sílvio, Paulinho Rodrigues, Aldeir, Augusto, Edivaldo, Celso Roberto, Diron, Gilmar e alguns outros, que não me lembro no momento.   Detalhe importante: isto foi nas décadas de 70 e 80. Quando os jogadores eram “fabricados” aqui mesmo em nossos campos, saiam dos nossos clubes amadores, chegavam aos profissionais e somente depois é que eram negociados. Responda-me rapidamente, caro leitor, qual foi o último jogador que saiu de Uberaba para vestir a camisa de um grande clube do futebol brasileiro? Provavelmente você vai se lembrar que foi o Rodrigo Mendes, que saiu do Infantil do Nacional para o Flamengo, e de lá para vários outros clubes, estando hoje com mais de 34 anos, defendendo o Fortaleza. Rodrigo Mendes foi o divisor de épocas. O primeiro, e também o último, desta fase de saídas precoces de nossos jovens atletas. Depois deste período, muitos já foram levados por olheiros e empresários, deixando Uberaba quase que usando chupetas, para ir tentar os grandes centros. Até a presente data, ninguém atingiu o estrelato. Fale-se que atualmente tem o garoto Patrick, que está no São Paulo; o Zé Eduardo, filho do Marcinho; um filho do Alamir; um outro chamado Tindorim; o Lucas que era do Uberaba, e mais alguns estão em grandes cidades, com possibilidades de se darem bem. Deus os ajude. Torço por eles. Mas, o retrospecto não é muito animador. A grande maioria dos garotos que poderia ter-se revelado aqui, nos nossos clubes, como antigamente, saíram e ainda não conseguiram chegar onde poderiam ter chegado se tivessem optado por outras vias.   Por isto, mesmo reconhecendo que os tempos são outros e as regras atuais são estas, é que não acredito muito nestas parcerias que são montadas atualmente, que só visão o lucro imediato. Na verdade, não é só o futebol de Uberaba que é vítima desta situação, o interior todo passa por isso. Raro é o craque que aparece numa pequena equipe. Os olheiros e empresários investidores não deixam e com isto estão matando o futebol brasileiro. Estão tirando nossos craques de seu “habitat” natural, para levá-los a enfrentar uma concorrência perversa dos grandes clubes, onde é proibido fracassar. Ou o garoto-promessa vira logo um Robinho, um Kaká, um Neymar, ou vai imediatamente para a vala dos bonzinhos, que abastece de volta as equipes interioranas, de jovens desiludidos e desmotivados com a carreira, bem antes de iniciá-la. Na minha opinião, ou os altos dirigentes do futebol brasileiro mudam este estado de coisas o mais rapidamente possível, ou o futebol brasileiro vai começar a dar vexame no cenário internacional. O que estão fazendo com o nosso futebol é o mesmo que fizeram com a pesca nos nossos rios. A prática predatória dizimou o que era abundante, e que agora é raro. Tudo isto em nome do lucro rápido, muito rápido... Azar para o esporte chamado futebol!   MAL EXPLICADO   Muito mal explicada a ida de uma “seleção” de futuros craques de Uberaba, com a camisa do Fabrício, para um jogo amistoso contra o São Paulo, da mesma categoria, em Cotia. Dizem que o placar foi tão elástico, que os dirigentes paulistas queriam parar o jogo ainda na metade. Coisas mal planejadas assim, só ajudam a diminuir as chances de um dia voltarmos a ver uberabenses vestindo as camisas de grandes clubes.   BOM DOMINGO PARA TODOS E UM BOM FUTURO PARA O NOSSO FUTEBOL.

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