Não sei o que é pior: a intolerância do deputado petista com um bedel negro, que ele julgou que estava trabalhando contra o Estatuto da Igualdade Racial, ou a declaração do fenômeno
Não sei o que é pior: a intolerância do deputado petista com um bedel negro, que ele julgou que estava trabalhando contra o Estatuto da Igualdade Racial, ou a declaração do fenômeno no futebol Ronaldo, ao afirmar que quer educar seu filho na Europa. Talvez ambos se igualem e traduzem uma visão equívoca do Brasil ou os seus níveis de relacionamento estão aquém do desejado para um todo. Declarações são fortes indícios de pensamentos e de ações pactuadas por setores que se identificam.
O deputado petista demonstrou que negros não podem se opor e quem se opor sem ser negro pode ser considerado racista, não obstante a sua indelicadeza com o jovem negro que trabalhava no plenário da comissão que discutia aquele estatuto. Talvez o problema não esteja na cor.
Acredito que filho do jogador Ronaldo não deve estudar em escola pública ou frequentar rodas de crianças de periferia, portanto a educação inadequada de seu filho ocorre em rodas letradas. No entanto, em sua entrevista, ele afirma que precisa dedicar-se mais ao filho. Talvez o problema não esteja na escola.
Diferentemente de meu amigo Evódio, que não tem neurose quanto à cor e estudou sempre no Brasil.
Contou-me, certa vez, que em instituição universitária onde cursou uma nova graduação, havia como companhia mais próxima uma advogada e duas egressas de cursos não conclusos de Zootecnia e Engenharia Ambiental. Sempre conversavam e faziam as atividades juntas. O interessante é que os alunos do curso não os discriminavam; tratavam-nos como iguais. Talvez seja assim mesmo. Geralmente, estudantes misturam tudo num caldeirão e convivem igualmente, formam as suas rodinhas e se aliam nas farras e conversas intermináveis. Vão se constituindo ao longo da graduação identidades, até que nasce a amizade. As parceiras próximas eram pessoas talentosas, alegres, estudiosas e viam no curso um caminho para novas esperanças profissionais. Havia entre elas um sentimento de pertencimento e o que estragava era a visão míope de alguns professores, que insistiam em tratar a todos com intolerância e autoritarismo por estarem investidos do cargo professoral. Talvez o problema não esteja na graduação.
A intolerância é resultado das indiferenças dos que não querem a igualdade. O que leva à indiferença não é o dinheiro, o status social, a cor ou a ausência de educação, e sim a visão que sem tem das partes sem levar em conta o todo, que se constitui diferentemente. Essa visão fragmentária de mundo faz com que alguns vejam a sua realidade como sendo a verdadeira. O sucesso de Ronaldo no futebol, sem afirmar que ele seja feliz, e o mandato do deputado petista não fazem deles homens tolerantes com as diferenças, e sim autoritários de uma ordem que julgam irreversível, se a sua vontade não for aplicada. Dói ouvir desses líderes – não meus – o impositivo de suas intolerâncias.
Quanto ao martírio das amigas e de Evódio, ainda há tempo para o melhor.
(*) Professor