O trecho a que já me referi, anteriormente, neste espaço, após o relato de que Beers quase perpetrou o suicídio, é o seguinte: "A Providência deve ter guiado os meus movimentos
O trecho a que já me referi, anteriormente, neste espaço, após o relato de que Beers quase perpetrou o suicídio, é o seguinte: "A Providência deve ter guiado os meus movimentos, pois de outro modo não se explica que, no instante de me atirar, eu tivesse preferido cair de pés para baixo. Com os dedos agarrei-me um momento ao peitoril. Depois larguei-me. Ao cair o meu corpo voltou-se de sorte a apresentar o flanco direito à parede. Bati no chão a pouco mais de meio metro do pé do edifício e, pelo menos um metro à esquerda do ponto de partida. Por uns dez centímetros, no máximo, não bati nas pedras. Caí na terra, menos dura, e minha posição deve ter sido quase vertical, pois os dois calcanhares tocaram o solo simultaneamente. O choque esmagou levemente um calcâneo e quebrou a maioria dos ossinhos do peito dos pés, mas sem mutilar as carnes. Quando os pés bateram no solo, a minha mão direita deu com violência na fachada da casa, e é provável que esses três pontos de contato, dividindo a força do choque, impedissem a fratura da espinha. Mas durante muitas semanas sofri a sensação de ter vidro em pó no lugar das cartilagens entre as vértebras." (O grifo é meu).
Depois de internado no Grace Hospital, já que graças aos Benfeitores Espirituais não estava com "a espinha quebrada", foi colocado numa cela, e passou a alimentar idéias delirantes persecutórias, chegando a pensar que era vítima do que na gíria policial americana chamam comumente "Terceiro Grau". Daí por diante, afirma: "Certas alucinações auditivas aumentavam a minha tortura." Todas as vozes se referiam a ele, e passou a ouvir "pancadinhas sinistras nas paredes e no teto do quarto pontuavam balbucios confusos de perseguidores invisíveis. (....) Mas logo depois de transportado para o meu quarto, em casa, todos os meus sentidos se perverteram." Ouvia ainda as "falsas vozes" e as alterações no tato, no paladar, no olfato [sentia cheiro de carne humana] e na vista "eram fonte de grande angústia mental." Pensava que nos alimentos colocavam veneno; que seus lençóis fossem de seda e que eles pudessem servir de algum propósito hostil. Sentia brisas suaves, mas estranhas. Chegou a psicografar um belo poema, "Luz"; sofreu horrores por mais algum tempo e, ao se tornar um homem livre, acatou a opinião de um psiquiatra que consagrou uma longa vida no tratamento de loucos, segundo a qual "o que os loucos mais precisam é de um amigo!" Que se identifique com o Cristo.
(*) clínico geral e psiquiatra