Amar como Evódio amou, só louco. O seu amor parou porque não foi bom pra ele e, muito menos, para quem foi amada. Não sabiam o que era o amor. Amavam
Amar como Evódio amou, só louco. O seu amor parou porque não foi bom pra ele e, muito menos, para quem foi amada. Não sabiam o que era o amor. Amavam. Ao saírem na alegria de almas a caminho da luz, tornavam-se opacos, arrelientos e o entrelaçar de felicidades desaparecia. Os passeios tornaram-se raros devido aos ciúmes mútuos. Ela com as amigas dele, ele com os amigos dela. Revezavam em explosões vulcânicas por qualquer olhar diferente ou por olhares vagos. O que foi era inevitável, e se não houvesse explicação, as lavas escorriam queimando lábios que se beijam, mas mordem e falam, tornam-se agressivos. “Talvez houvesse entre eles os sentidos da paixão e feriam-se com as palavras, gerando mal-entendido, deixando feridas. Assim, como a ingratidão e a traição ferem, deixam lembranças inconfessáveis, amargas. De onde o sabor da saudade se petrifica nos sentimentos, e o pensamento torna-se obsessivo com as lembranças e a vida vira um redemoinho de uma nota só.” Mas isso são conclusões do cronista.
Voltemos aos ciúmes de Evódio e de sua companheira. A roupa, que serve à vaidade e cobre a nudez que se quer ver, era motivo de brigas, de discussões seja devido ao tamanho da saia ou por ser transparente ao sol. Se os seios, aparentemente, saltam salientes, era motivo de longas discussões seguidas de perguntas. “A quem você quer ser mostrar?” Ou se no olhar pintado havia uma extravagância, Evódio ficava transtornado devido à loucura do ciúme possessivo. Ela, ao chamá-lo ao telefone se estivesse ocupado, logo vinha a pergunta: “Com quem você estava falando?” Pronto, o circo da paixão estava armado. “Só louco para achar que isso é amor.” Isso me parece mais um vício entre pessoas que têm mais química que amor. Eram viciados demais um no outro, não conseguiam ficar distantes e sonhavam uma vida futura juntos. Todavia tinham receio do próprio relacionamento devido ao desentendimento que sempre os assombrava. Deixando-os desanimados, porém juntos, porque não tinham força de vontade para se separar. Resolveram dar um tempo no relacionamento. O vício não permite. Logo estavam de bocas grudadas e mentes exaltadas. Não sabiam do vício e não conseguiam largá-lo. A química humana os tornou dependentes sem que soubessem. As suas almas eram desgarradas e a química os unia.
Hoje não se veem mais. Talvez se encontrem em lembranças relatadas por desabafo e não por perdão. Outrora, ao viajar para escapar dos conhecidos, logo os assuntos do passado revoavam as suas cabeças e as perguntas eram inevitáveis e, consequentemente, as brigas por ciúmes de épocas não vividas juntas.
Só louco amar um amor não amado. Um dia se viram, ignoraram-se. Ele a evitou, ela desviou o olhar. Terminaram, nunca falaram sobre isso. Talvez tenham se libertado do vício ou perceberam que a falta de gentileza traduz ausência de uma relação aperfeiçoada.
(*) professor