Vimos, pelos meios de comunicação, dias atrás, a história do morador de rua
Vimos, pelos meios de comunicação, dias atrás, a história do morador de rua que, encontrando vinte mil reais, produto de roubo abandonado perto do ponto em que se instalara com a mulher, não hesitou em levá-lo à polícia para, posteriormente, ser entregue ao dono de uma lanchonete, de onde a quantia havia sido levada.
Inquirido sobre por que o fizera, já que muito necessitado pela própria situação de vida, respondeu que aprendera com a mãe, criança ainda, que era errado pegar aquilo que não lhe pertencia.
Levado, posteriormente, ao encontro com a mãe, no Nordeste, a quem não via fazia muito tempo, provocou, nos telespectadores, momento de emoção e de lição de vida. A mãe confirma, então, que, criança ainda, se o filho aparecesse com objeto que não lhe pertencia, levava uma surra, com a orientação de que jamais deveria apropriar-se do que não era seu.
Vimos ainda que, movido pelo caráter confiável do morador de rua, o dono da lanchonete propôs treiná-lo e dar-lhe emprego em seu estabelecimento comercial.
Fiquei pensando sobre o episódi um pobre coitado, abandonado pela sorte e pela sociedade e amargando seu abandono, resolve devolver o dinheiro encontrado, mesmo consciente de que a quantia seria um bom começo de vida, uma possibilidade de encontrar dias melhores, para ele e a companheira; ao mesmo tempo, na imensidão de nosso Brasil, uma teia de corrupção entrelaça, em suas malhas, políticos, homens do poder econômico, grandes empresas e empresários, desmascarando, mais uma vez, pessoas e instituições que, responsáveis pelos destinos da nação e pela proteção ao sofrido povo brasileiro, deixam-no, mais uma vez, aturdido e decepcionado. Em quem acreditar? Em quem confiar?
E novamente, como educadora, reforço o que tenho falado sempre: a educação vem do meio familiar (sem a necessidade de surras, evidentemente), não importa a classe social, a cultura, o prestígio, o poder: há tanta gente humilde - sem diploma nem profissão relevante, ou fortunas acumuladas – que sabe e faz questão de passar aos filhos a importância dos valores que fazem do cidadão o acréscimo social necessário para o próprio crescimento e para o crescimento do país, a partir dos ensinamentos em família.
As situações contrastantes em relação à postura diante e na falta do poder nos revelam que, apesar dos fatos de corrupção inaceitáveis e merecedores de nosso repúdio – repetindo-se, de forma desavergonhada - mostram-nos, também, que a esperança na ética e nos valores morais não pode desaparecer de nossos corações: o bem, um dia, vencerá o mal.
(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro. [email protected]