Os mais antigos lembram-se bem da Segunda Guerra Mundial. Recordam-se também de dois ditadores que marcaram época, responsáveis por um absolutismo sem limites em sua crueldade: Adolf Hitler (o Führer)
Os mais antigos lembram-se bem da Segunda Guerra Mundial. Recordam-se também de dois ditadores que marcaram época, responsáveis por um absolutismo sem limites em sua crueldade: Adolf Hitler (o Fuhrer) e Benito Mussolini (o Duce). Ficou famosa uma declaração deste último. Um repórter perguntou a ele: “Duce, è difficile governare il popolo italiano?” Sem pestanejar, Mussolini respondeu: “Non, non è difficile, è inutile”. É de Mussolini, grosseirão e mal-educado que tenho me lembrado ultimamente, principalmente no trânsito. Há dias duas jovens aguardavam o sinal verde num cruzamento. Olhando uma para a outra conversavam e riam com animação. Aberto o sinal, continuaram no papo. Aguardei algum tempo e dei um sinal de alerta. Uma delas fez-me um sinal obsceno e continuaram a conversar até abrir o amarelo. Repetiram o sinal obsceno e, só então foram embora. Talvez fossem instruídas, mas de uma grosseria inexplicável. “Sem berço”, como dizia minha mãe. Se você dá preferência ao pedestre, poucos agradecem. Muitos até se assustam. Quanto aos motoqueiros nem vou comentar. Quanto aos transeuntes, o idoso não tem vez, você dá passagem ou leva trombada. “Velho cego!” Tenho a impressão de que o bom comportamento do povo está se tornando mais agressivo e destemperado. O povo anda mais irritado, mais mal-educado. Não faz tempo, fui convidado para dar uma aula num colégio de periferia. O objetivo era orientar aqueles jovens de 15 a 18 anos como comportar-se na participação política. Enfim, uma aula sobre política: como votar, em quem votar, critérios de escolhas e coisas assim. Pela primeira vez na minha vida, não consegui dominar uma aula. A maioria dos alunos de boné virado, jogando no ar aviãozinhos de papel, dando tapas na cabeça do vizinho, saindo do lugar. Não consegui nem sequer dar boa noite. Lembrei-me de Mussolini. Não é difícil educar, é inútil. Ficar ali olhando aquela molecada era inútil. Com os pedidos de desculpas da professora, fui embora. Pensei no drama daquela jovem que, durante anos se preparou para educar. Dizia Rousseau que o homem é produto do meio. Teria ele razão? De onde vieram aquelas feras? Pensei nas famílias desorganizadas que produzem esses monstrinhos. Pensei no desemprego. Na incrível desigualdade da distribuição de renda. Pensei no avanço da droga. Tudo isso gera revolta, gera violência. Quando o líder da droga, na Colômbia, Pablo Escobar, foi preso, deixou-nos uma frase significativa: “Vou derrotar os Estados Unidos por dentro.” É o que está acontecendo, também aqui estamos sendo derrotados por dentro. A droga está ganhando a guerra. Educar é difícil, a mais difícil de todas as artes. Ser “professor” não é tão difícil como pensam. Lecionei durante trinta anos. Lecionava para adultos. Não tinha problemas. Ensinar é transmitir fórmulas, conceitos, fatos. O difícil é “educar”. Ser professor e educador, hoje, é uma escolha heróica. Mas, como disse o apóstolo Paulo, “é preciso esperar contra toda a esperança”. Nem tudo está perdido. Há sempre uma luz no final do túnel. Seria vergonhoso se cruzássemos os braços. O que está mesmo difícil é encontrar essa luz.