É estranha nossa trajetória pela vida. Chega o final do ano e, infalivelmente, nos perguntamos. O que fizemos?
É estranha nossa trajetória pela vida.
Chega o final do ano e, infalivelmente, nos perguntamos. O que fizemos? O que deixamos de fazer?
Quais nossos ganhos no ano que finda? Quais nossas perdas?
Por um lado, alegrias pelo bem que pudemos concretizar, naquela sensação, ainda que momentânea, do dever cumprido. Por outro, o que ficou pelo caminho, como pedras irremovíveis que nossa força não conseguiu dissipar.
Passo pela rua, vejo semblantes, incógnitas escondidas em rostos sem sorriso, na inexpressividade de quem caminha por caminhar, feito robô que apenas aguarda o resto de combustível para interromper a caminhada.
Mas vejo, também, expressões felizes em sorrisos escancarados, como que a saudar cada dia e cada noite, cada despontar do sol a cada manhã, cada despontar de estrela a cada anoitecer. A alegria transparente ilumina-lhes o semblante como se fosse reflexo das amenidades existenciais recebidas.
Na esquina, lugar físico, na esquina da vida, lugar existencial, um molambo de gente esgaravata o saco de lixo largado na calçada, buscando o quê, ninguém sabe: o sustento do filho, a bebida para driblar a miséria, a esperança de algum tesouro escondido.
A disparidade nas pessoas me assusta: a abundância que propicia vida nababesca e a miséria que extrai até mesmo o direito de sobreviver; a temperança diante dos revezes da vida e o louco desespero em face das adversidades; a alegria estonteante diante das pequenas conquistas e a insatisfação gritante mesmo nas soberbas aquisições; a capacidade de doar-se, mesmo quando o vazio nada tem a oferecer e a recusa em estender o sorriso ao outro, sonegando um simples gesto de fraternidade.
Ah! ser humano! Se viemos de Deus, o que entortou nossa moldagem? O que nos fez ver com olhos tortos o que exige olhar direto e verdadeiro? O que nos desviou da finalidade a que fomos destinados, em face do Criador e dos irmãos?
É tempo de refletir. É tempo de retomar os caminhos, abandonados por atalhos de curvas e riscos. É tempo de voltar a acreditar que o mesmo sol do início da criação continua a brilhar, tentando mostrar-nos que a luz não pode apagar-se de nossa trajetória, luz que, vinda do Espírito, nos aponte, com nitidez, os rumos a assumir em favor de nós próprios e dos outros. Amém!
(*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro
terezinhahuebdemenezes@uol.com.br