Minhas queridas leitoras, meus queridos leitores
Minhas queridas leitoras, meus queridos leitores,
Tenho acompanhado a movimentação popular em várias cidades do Brasil, inclusive em Uberaba. O pretexto inicial foi o preço da passagem de transporte coletivo. Mas apenas pretexto.
No cerne da questão, tantas outras preocupações que hoje assoberbam a cabeça do brasileiro. E, queiramos ou não, nas redes sociais está o principal manancial para esclarecer, alertar e orientar as pessoas.
Tenho visto postagens que valem a pena ver: por exemplo, uma em que aparece a imagem do Maracanã, com a mensagem, mais ou menos assim: “Se seu filho adoecer, vá ao estádio.” E outra, com a mesma imagem: “O circo está pronto, falta o pão.” E ainda: “Enquanto a bola rola, falta saúde e falta escola.” E por aí vai.
As críticas nos levam a pensar em prioridades e na necessidade de respeitá-las.
Lembro aqui um fato vivenciado pelo ex-vereador Murilo Pacheco de Menezes: estava presente, no plenário da Câmara Municipal, uma boa parcela de médicos, todos de branco, representando a Sociedade de Medicina, pleiteando dos vereadores verba para a realização de um congresso. Como de outras vezes, Murilo – salvo engano, sozinho – votou contra e justificou: aqui em nossa terra, havia prioridades inadiáveis, envolvendo os mais carentes. Alguns colegas, depois, lhe disseram que ele estava “doido” de se posicionar daquela forma diante dos renomados médicos. Foi uma prova de coerência de vida e de princípios, em relação ao respeito às prioridades sociais. Os médicos, felizmente, entenderam isso.
Relato isso apenas para confirmar minha concordância com os apelos do povo brasileir bilhões e bilhões para a construção e reconstrução de estádios quando o que precisa ser reconstruído são a saúde, a educação, a segurança, a moradia. Dói pensar que ainda se morre de gripe suína, quando o que se esbanja, pelos desvios de verba e pela corrupção, poderia ser revertido em vacinas para todos, em todos os lugares do país; e de dengue em parte, talvez, porque não se invista em cientistas com condições de pesquisar e descobrir vacinas adequadas.
Realmente, somos tomados pelo cansaço quando pensamos na corrupção reinante, no desvio de verbas, no desprezo com que os anseios populares são tratados pelo sistema (felizmente ainda possuímos políticos sérios, que cumprem, com fidelidade, suas funções).
E agora, ainda a PEC (Proposta de Emenda à Constituição): “O projeto, conhecido como PEC da Impunidade, pretende tirar o poder de investigação criminal dos Ministérios Públicos Estaduais e Federal, modificando a Constituição Brasileira. Na prática, se aprovada, a emenda praticamente inviabilizará investigações contra o crime organizado, desvio de verbas, corrupção, abusos cometidos por agentes do Estado e violações de direitos humanos.”
Os que votarem a favor estarão buscando o quê? Autoproteger-se de futuras punições? (Felizmente, parece que já estão propondo a retirada da PEC 37 de pauta do Congresso...)
Enquanto isso, a bola rola e nós, brasileiros, rolando com ela em busca, principalmente, de saúde: onde faltam médicos, exames e remédios, a morte é certa.
Diante desse quadro grotesco, emanado principalmente da esfera federal, vendo o povo saindo às ruas para pleitear aquilo a que tem direito, vem-me, novamente, a fala de Chico Buarque: “Aí me dá uma tristeza no meu peito / Feito um despeito de não ter como lutar / E eu que não creio peço a Deus por minha gente /É gente humilde, que vontade de chorar.”
(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro [email protected]