A Psicologia, por ser a Ciência da subjetividade, vez ou outra, vale-se de conceitos de outras ciências mais concretas para melhor ser entendida
A Psicologia, por ser a Ciência da subjetividade, vez ou outra, vale-se de conceitos de outras ciências mais concretas para melhor ser entendida. Isso aconteceu com o conceito de resiliência, extraído da Física para denominar a “propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora duma deformação elástica”.
Traduzindo é, por exemplo, uma garrafinha plástica que se deforma ao ser apertada, mas volta ao seu estado normal quando cessamos a pressão.
Nos seres humanos, resiliência é a capacidade de resistir aos choques e retornar ao estado inicial, após superar uma situação crítica, tirando proveito dos sofrimentos, das dificuldades. É não se deixar destruir pelas adversidades e aproveitá-las para crescer, “dando a volta por cima”.
A resiliência é, no conceito popular, “saber fazer do limão uma limonada” e, isso só é possível, mediante três condições essenciais:
1 – Saber reconhecer a verdadeira dimensão de um problema, sem minimizá-lo e nem exagerá-lo, explorando nossas reais possibilidades de enfrentá-lo, sem “fazer tempestade em copo d’água” e sem “ficar dando murro em ponta de faca.”
2 – Ter, durante o período de pressão, pelo menos um vínculo emocional significativo que nos faça sentir amados, aceitos e compreendidos.
3 – Ter um sentido de propósito e de futuro. Acreditar que iremos, no futuro, sair da situação problemática. Ser capaz de traçar um plano B, definido em pequenas etapas e valorizar cada pequeno sucesso conseguido.
Podemos desenvolver a resiliência em três diferentes dimensões:
Em relação a nós mesmos. Quem possui autoestima e autoconceito positivo acredita na sua própria força. Como dizia Carlos Drummond de Andrade: “A dor é inevitável. O sofrimento, opcional”.
Em relação ao tempo revivendo e relativizando experiências negativas por meio da razão e do bom humor e enfocando mais o desafio e menos o dano. É rever os fatos como propõe Ataulfo Alves: “Ali onde eu chorei, qualquer um chorava; dar a volta por cima que eu dei, quero ver quem dava.”
Em relação às circunstâncias difíceis da vida, sendo flexível e sem perder o foco de nossa existência, de nossa autopreservação e de nosso crescimento. “Todo caminho da gente é resvaloso, mas também não prejudica demais: a gente levanta, a gente sobe, a gente volta”. (Guimarães Rosa)
Como podemos ver, a resiliência – esse conceito ainda desconhecido por muitos - é uma conquista pessoal que podemos realizar em nós mesmos e estimular nas outras pessoas, ou seja, ela pode ser aprendida e ensinada.
(*) mestre em Psicologia pela PUC/SP, terapeuta do Luto e das Perdas e palestrante [email protected]