ARTICULISTAS

Registro existencial

Já disse certo poeta, não sei exatamente com que palavras

Terezinha Hueb de Menezes
thuebmenezes@hotmail.com
Publicado em 11/06/2011 às 20:33Atualizado em 19/12/2022 às 23:51
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Já disse certo poeta, não sei exatamente com que palavras, que o tempo e o espaço estão dentro de nós. Por isso são imutáveis.

Tudo que vivenciamos, seja em que tempo for, fica registrado na memória, pronto a atualizar-se espontânea ou voluntariamente. O tempo não se perde. O espaço não se apaga.

A criança que cada um foi não morre. Torna-se adulta, mas permanece com seus anseios nunca atingidos, ou com suas conquistas concretizadas. Mas permanece. Os espaços percorridos guardam seus detalhes, seus contornos, suas cores num cantinho das lembranças. O arvoredo do quintal mantém o cheiro adocicado das flores no romper da primavera. As cigarras, no fundinho das recordações, continuam anunciando, com seu canto estridente, a estação vindoura.

Nada se perde na vida do ser humano. Até mesmo os lugares nunca visitados, mas tão queridos, se conservam na saudade do que não se conseguiu ver, talvez nem mais valendo a pena ser vistos no tempo presente. 

Tempo e espaço se mesclam. Neles, enclausurado o ser humano, porque dentro dele. Limitam-no. Cerceiam-no. Fazem-no escravo, de tal modo, que não consegue viver longe deles. Seja o tempo real, do presente, ou o tempo da memória. Seja o espaço atual ou aquele que se congelou na orla do tempo, num passado próximo ou distante.

Ainda que o homem se afaste para outras plagas, o coração permanecerá em seu espaço perdido. Suas energias procurarão, nas energias do lugar deixado, a identidade de sua vida, no acompanhamento de fatos que também são seus, de modificações que ora o alegram, ora o decepcionam. E ele acompanha as ocorrências, na tentativa de presentificaçã quer estar lá, mesmo não estando, por isso faz de conta que participa de tudo, mesmo estando ausente.

Esta a grande dor dos exilados: ver-se distantes espacial e temporalmente, ver-se afastados do mundo que amam, do convívio que os completa. Aí tudo atinge um sentido diferente: o que era visto com displicência, assume configuração definida – aquela praça, com os caminhos ensolarados, a torre da igreja, o trajeto de casa, o barulho da meninada andando de patins na rua, aquele mesmo velhinho de andar trôpego nas manhãs de domingo, o bem-te-vi entardecendo junto com a tarde seu canto sonoro.

Não se perdem o tempo e o espaço. Talvez cada um de nós se perca neles. E tanto mais quanto mais ambos se aplicarem em nossas vidas.

Aí o homem, ínfimo em sua fragilidade, rodopiará ante a dimensão de sua própria existência, aparentemente tão curta, mas, na verdade, rica de trajetórias, com seus lugares, seu tempo, seus acontecimentos.

O homem e seu tempo/espaç configuração real do burburinho que é cada vida, com aquilo que o plasma em seu trajeto.

(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiromailtthuebmenezes@hotmail.com                            

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